"Faça como o velho marinheiro/ que durante o nevoeiro/ leva o barco devagar" (Paulinho da Viola)
01. Escrevi aqui, semana passada, sobre os contos do vigário que vêm sendo impostos ao brasileiro nesses últimos tempos. O texto, na verdade, partiu do tal fenômeno Bambam que a Globo consagrou e foi notícia nos quatro cantos do País. Citamos, ainda que ligeiramente, as pífias histórias do caçador de marajá, do
príncipe dos sociólogos que fez valer seu mandato para conquistar o segundo, do
apagão que não apagou (mas faz subir perenemente as contas de luz e energia), do Fura-Fila que conhecemos tão bem e de campanhas políticas que tentam nos seduzir e convencer que tudo o que existe é obra de fulano ou Sicrano é o homem que faz.
02. Pois não é que as maltraçadas linhas tiveram uma repercussão acima do normal. Achei notável. Até porque, pelo que havia visto e ouvido, imaginei que o Brasil todo embarcara naquela trapitonga imprestável chamada show da realidade. Os leitores, por telefone ou via e-mail ou mesmo pessoalmente, mostraram-se dispostos a colaborar com a coluna e lembraram outros episódios em que caímos de quatro como Nação livre e soberana.
03. O estudante Domingos André, por exemplo, fez o que considero um registro histórico. Falou da força da campanha das Diretas-Já que malogrou no Congresso e deu origem a uma solução conciliatória chamada Tancredo Neves. O passo seguinte foi a tragédia de Tancredo e a posse de José Sarney — na verdade, um grande arranjo político entre alas mais conservadoras e militares. A bem da verdade, o cargo de presidente havia ficado vago e quem deveria assumir era o presidente da Câmara Federal, o deputado Ulysses Guimarães, visto com desconfiança pela classe até então dominante (que, claro, continuou dominando, com Sarney). Em 30 dias, se Tancredo estivesse (como estava) impedido de assumir seriam marcadas novas eleições. E aí argumentaram a democracia corre risco e nós, povão, engolimos o sapo bigodudo que virou presidente.
04. Pelas manifestações que recebi, a CPMF é outra lorota que os leitores não engolem. Era um imposto provisório, temporário voltado para a Saúde. Por esse ou aquele motivo, o tucanato vem renovando a validade e aumentando os índices da cobrança. O rombo em nosso orçamento aparece a cada semana e os serviços prometidos continuam precários, quase inexistentes na área da Saúde Pública. Na esteira dessa questão, choveram críticas ao caradurísmo da candidatura do ministro José Serra em plena epidemia de dengue. Pior: com o apoio dos principais veículos de comunicação. Que País é este? — repetiu a pergunta histórica o leitor que se disse apenas um comerciante do velho Ponto Fábrica.
05. No ranking das grandes vigarices, no entender dos leitores, ainda figuram: o sobe e desce do preços dos combustíveis (proporcionalmente o aumento é sempre maior que a redução) independente do preço no Exterior do barril de petróleo, o pró-álcool (lembra-se da frase "Carro a álcool. Você ainda vai ter um"), a reforma tributária que nunca sai, a CPI do Futebol que até agora só referendou Ricardo Teixeira como presidente da CBF, o suicídio de PC Faria, a prisão domiciliar do Juiz Lalau, o Impeachment do prefeito Celso Pitta que não virou, as privatizações meia-boca que entregaram o ouro aos alienígenas e o blá-blá-blá e nhem-nhem-nhem que nada resolvem dos nossos políticos e governantes…
06. E tem mais, muito mais… Bem, resta a esperança que ainda existe gente atenta à nossa realidade. E interessada em mudar. Melhor: gente que nos distingue com a sua leitura. Por elas e por todos nós, reitero o apelo: Acorda Brasil!