01. Não se iluda caro leitor. Todos os esforços que o Congresso Nacional demonstrou, nesta semana, para que o deputado Sérgio Naya seja eliminado de seus quadros são meros jogos de cena, próprios de um ano eleitoral. Naya, o deputado que virou notícia nacional por ser o proprietário da empresa que construiu (?), o prédio que veio abaixo no Rio, caiu em desgraça junto a seus pares, exatamente para que não respingue em qualquer outro parlamentar os estragos da súbita má-fama. Vai que a opinião pública resolva pressionar as autoridades e a Imprensa para que realizem um "quem é quem" na Câmara Federal e no Senado. Quantos sérgio-nayas existem por lá, com seus castelos de areia e as suas bravatas, comuns a quem se habitua ao Poder… Todos, como Naya, acobertados pela tal imunidade…
02. Por isso, o PPB de Paulo Maluf não teve dúvidas de sumariamente expulsá-lo da corporação ainda na quarta-feira. Mesmo dia que o presidente Fernando Henrique, o presidente do Senado Antônio Carlos Magalhães e o presidente da Câmara Michael Temer receberam uma comissão de ex-moradores do prédio sinistrado. Cada uma dessas insignes personalidades foi premiada com um torrão de pedra do Palace que se esfarelou semana passada. A cena da entrega teve um tom de dramaticidade e outro tanto de ridículo. O drama obviamente ficou por conta do gesto desesperado de quem vivenciou dias de agonia e dor, alguns deles inclusive com a perda de entes queridos. O ridículo coube às autoridades. Temer, visivelmente constrangido, segurou a pedra com extremo cuidado, medo talvez que virasse pó em suas mãos. O baiano ACM manteve distância. Olhou de esguelha e deixou para que um dos moradores se incumbisse da demonstração. A pedra não resistiu ao primeiro pressionar dos dedos. Já o presidente Fernando Henrique não teve dúvidas em exibir o pedaço de pedra como troféu. O gesto preconizava justiça acima de tudo. Mas, dentro dos parâmetros da lei, como bem ressaltou. Ou seja, por enquanto, nada de concreto para os reclamantes.
03. Além da saga de Sérgio Naya, outro fato (desta vez, genuinamente política) agitou as conversas e os bastidores do Congresso. A convenção nacional do PMDB, marcada para domingo, vem acalentando uma série de especulações. Explica-se o motivo de tamanho interesse: a maior agremiação política do País aparece, neste preciso momento, como o fiel da balança da eleição presidencial deste ano. Duas vertentes peemedebistas vão para o confronto democrático. Uma delas defende uma candidatura própria à Presidência. O nome escolhido: o ex-presidente Itamar Franco. Outra prefere apostar na reeleição de FHC e, desse modo, preservar os espaços que já usufruem no governo tucano. Há ainda uma terceira que garante que a melhor solução é chutar toda e qualquer decisão para junho. Esses senhores, espertos, com anos e anos de praia, ou melhor de Planalto, sabem que o tempo, nesses casos, pode sugerir outras tantas (e produtivas) rodadas de negociações. E em política, ao menos em terras tupiniquins, não convém fechar uma porta, sem escancarar outras três ou quatro…
04. Explica-se também a importância da convenção do PMDB pelo que interpretam as pesquisas de opinião pública até aqui. Com Itamar, um dos pais do Real, no páreo, o segundo turno é mais do que provável. E esse segundo turno não interessa nada, nada aos que se dizem apóstolos da reeleição. O rival de FHC, fosse ele o próprio Itamar, fosse Lula (apesar dos desvarios de Brizola que anunciou ter recebido mensagens do além de Getúlio Vargas) ou mesmo Ciro Gomes, enfeixaria as outrora chamadas forças democráticas, enquanto para o atual presidente restaria o apoio daqueles que, nos tempos obscuros, apoiaram o autoritarismo… Convenhamos, não seria fácil explicar ao eleitorado o porquê dos inimigos de ontem se transformarem nos aliados de hoje… Assim como não está sendo fácil, para nós, entender se o tal neoliberalismo é sinônimo de modernidade porque o País caminha inexoravelmente para trás…