01. E lá se foi o velho Mazzo… Deixou um raro legado de feitos e humanidade ao quatrocentão bairro do Ipiranga e ao quase centenário Clube Atlético Ypiranga, a quem dedicou imensurável amor. Quem conviveu com José Mazzo (mesmo esporadicamente como eu) não vai esquecê-lo…
02. Uma das minhas primeiras tarefas como repórter de Gazeta do Ipiranga foi entrevistar o amigo do peito de Jânio Quadros, vice-presidente do Ypiranga e exímio alfaiate José Mazzo. Não me recordo o assunto da matéria (foi lá pelos idos de 74, talvez 75), mas o que ouvi ali, na alfaiataria da Silva Bueno, vizinha às Casas da Banha, foi uma emocionada e sincera história de vida, com ênfase em virtudes como amizade, ideais solidários, justiça e com alinhavos para essa luminosa pedra filosofal chamada humildade.
03. Reparo que, à época, vivíamos um regime de exceção e que, apesar dos rigores ditatoriais, o sonho de um País melhor era possível. As pessoas acreditavam nas mudanças porque simplesmente acreditavam umas nas outras. Imaginava-se que a democracia, por si só, daria prumo e solidez ao Brasil de todos os brasileiros que eu, nos meus vinte e poucos anos, e o Mazzo, nos seus quase 60, almejávamos. Não levantávamos exatamente as mesmas bandeiras, mas respeitávamos (e aplaudíamos, por que não?) o direito de cada um de trabalhar a seu modo pela construção de uma Nação contemporânea, pluralista e socialmente justa. Tínhamos fé no futuro…
04. A manhã ameaçadora e cinza desta quinta-feira, quando escrevo estas linhas, parece propor a reflexão: por onde anda essa certeza? A leitura dos noticiários matutinos não deixa dúvida. Tragédias sobre tragédias. Desde a degenerescência dos remédios falsos à morte violenta de nossos jovens nas ruas, nas esquinas por acidentes, vícios ou balas perdidas… Otimismo, nem nas editorias esportivas. Só mesmo nas promessas e planos de quem pretende se reeleger. Apenas nos anúncios oficiais (com fins claramente eleitorais) o País parece cumprir seu grande destino. A quem pretendem enganar…
05. Temos lá nosso quinhão de culpa. Afinal, com a benfazeja democracia, especialmente nós (privilegiados, com acesso a educação, moradia, alimentação e anseios de ascensão social) votamos por votar, sem pensar na dimensão do ato e da nossa cidadania. Não consideramos a Nação que se consolida e que somos literalmente todos nós, inclusive esse enorme e crescente contingente de desvalidos. Então, em nome de causas menores, abrimos mão dos ideais solidários, da justiça social, da fé no Brasil esperança… Quase sempre, evocar o passado é construir o futuro.