Bem, vamos continuar a história dos debates…
Em São Paulo, o primeiro debate reuniu à mesa um time peso-pesado. Não lembro ao certo se foi na própria TV Bandeirantes. Mas, é provável que sim… Não houve regras previamente elaboradas. E cada um dos candidatos valeu-se mais da sua pegada do que propriamente de algum tipo de preparação. Montoro ganhou as eleições com certa tranqüilidade e o bate-boca da vez nada influiu no resultado. De marcante, ficou um bordão que um dos candidatos nanicos bradou insistentemene durante toda a campanha:
— Cadê você, Franco Montoro?
II.
Três anos depois, na eleição para a Prefeitura de São Paulo, o primeiro momento antológico. O jornalista Bóris Casoy ainda pertencia aos quadros da Folha de S. Paulo, onde havia ocupado o cargo de editor-chefe por muitos anos. Não tinha a menor intimidade com a TV, e foi convidado a ser um dos perguntadores. O então senador Fernando Henrique era o favorito de todas as pesquisas. Um candidato imbatível na opinião dos cientistas políticos e similares. Até porque, naquele momento de ojeriza a tudo que lembrasse a ditadura, era comum se dizer que o PMDB elegeria "até um poste".
Jânio Quadros e o então deputado Eduardo Suplicy também participavam do pleito.
Jânio desobedeceu às regras modelares que se esperava de um candidato e simplesmente não compareceu ao encontro. Mesmo assim, foi o grande vencedor da noite.
Bóris pespegou duas perguntas que derrubaram FHC e Suplicy.
Para Fernando Henrique, perguntou:
— Senador, o senhor acredita em Deus?
O sociólogo sem religião patinou feio. Dias antes, havia participado de ato religioso, ao lado de milhares de fiéis, em louvor a Nossa Senhora Aparecida. Agora, atropelava-se nas palavras que soaram inconsistentes.
Com o deputado do Partido dos Trabalhadores, foi mais singelo.
— Deputado, o senhor sabe quanto custa o pãozinho?
A resposta foi um disparate. Não lembro exatamente o que disse Suplicy, até porque a moeda era outra. Mas, se atualizarmos, digamos que ele chutou algo em torno de um real ou mais…
Comprovou assim, para o telespectador, que o discurso e a prática andavam um tantinho distante – como, de resto, ainda hoje é…
Jânio ganhou também as eleições.
III.
Outro vencedor deste debate foi o apresentador Silvio Santos. Como assim? Logo contratou Bóris Casoy para apresentar um telejornal. E o transformou no primeiro âncora da TV brasileira, o que obrigou a própria Globo a rever o formato de seus telejornais, antes apresentados pelos chamados locutores-noticiaristas.
IV.
Lula também já teve seus dias de bom-humor em debates televisivos.
Num debate presidencial, chegou a elogiar o concorrente Paulo Maluf:
– O senhor é competente…
Espanto no estúdio e no público telespectador.
Como pode, são inimigos fidagais?
Lula elogiando Maluf?
Segundos depois, a conclusão:
– É que o senhor compete, compete, compete… E não ganha nunca.
Bons tempos, hein, Lula?
(Amanhã, eu volto. E, juro, encerro o assunto debate)