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No vão da escada

Ali, no vão da escada, olho as pessoas ao redor.
Cantam embevecidas; felizes, mas não propriamente…
Diria, sem medo de errar, enternecidas…

“Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias”.

Estamos gratos…

Afinal, a cidade celebra a volta,
à sua maneira, de Carioca, show do
cantor/compositor Chico Buarque.

Falo desse friozinho renitente,
que nos surpreende por aqui,
ainda em outubro…

Mesmo assim,
há um certo encantamento a vagar
na suntuosa Casa de Espetáculo.

Não se toca, não se vê…
Mas é perceptível aos que amam…
Ou, um dia, amaram assim…

“Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá,
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você”.

Hora e tanto de encantamento…
Versos raros… Harmonias sofisticadas…
Sentimentos plenos…

“Você era a mais bonita
Das cabrochas dessa ala
Você era a favorita
Onde eu era o mestre sala.
E hoje a gente nem se fala
Mas a festa continua”.

Fim do espetáculo.

E eu, pra ser sincero,
continuo ali. De pé, no vão da escada,
abraçado ao paletó, e louco a perguntar:
O que é que a vida vai fazer de mim

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