Vou contar o milagre, mas não o santo. Desculpem. Mas, o moço é meu amigo e ainda ontem me mandou um email, lembrando os velhos e bons tempos de Redação.
Foi então que lembrei da história que narro a seguir…
— Oi…
Espantou-se. E, tal aqueles cães de caça, se congelou em posição de ataque. Afinal, todos os dias, era ele quem a procurava para, digamos, dizer aquelas bobagens que os marmanjos se sentem no direito de dizer quando estão diante de uma linda mulher…
— Oi… eu disse…
— Oi, maraaaavilhosa!!!, derramou-se todo para mostrar claramente as intenções obscuras.
— Sabe, queria conversar com você…. Me acompanha até a minha seção?
— Claro, belezinha…
E caminharam pelo corredor do velho prédio, lado a lado. A um passo da porta do Departamento de Artes, onde ela era uma esforçada layoutista, fez sinal que esperasse.
— Não precisa entrar, não. Eu queria lhe dizer que andei pensando nas coisas que você me diz todos os dias. E resolvi que é hora de experimentar. O que você acha? Hoje à noite está bom para você…
Olhos saltados. Coração a mil. As mãos suavam…
— Claro, claro, ele respondeu…
— Então, depois a gente conversa sobre assunto, ok?
Voltou dando saltos e socos no ar, a la Pelé. O sorriso, de orelha a orelha. Entrou na Redação escandalizando a todos.
— Olha aí rapaziada. O fotógrafo aqui se deu bem. Vou derrubar a lebre e vai ser hoje. Eu sou o cara, senhores. O cara, entenderam?
Não, ninguém entendeu. Por isso mesmo ele tratou de explicar. Valorizou, obviamente, o charme e a elegância com que se fez irresistível. E que a moça – que, de resto, todos por ali cobiçavam inutilmente – estava a seus pés…
Alvorço geral. Algumas laudas velhas jogadas ao ar. Comentários diversos. Alguns invejosinhos, outros só para bagunçar mesmo. Foi quando no auge da, digamos, comemoração, ela surge na porta, envolta em mistério e promessas.
Silêncio. Todos os olhares se voltam para ela…
— Nardinho (olha a intimidade com que chamou Ednardo, o fotógrafo), sabe aquele nosso assunto…
Ninguém acreditou. Iria assumir publicamente o romance?
— Então, só uma coisa… é primeiro de abril. Dia da mentira, bobinho…
Queixos caídos. Todos se voltaram, como obedientes robôs, para conferir o grande calendário, pendurado na parede. E, infelizmente para o meu amigo, confirmaram a data e sua inexorabilidade…
Moral da história:
Deus nos livre das mulheres bixoruins, as que não têm coração…
[Texto publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]