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Luiz Gustavo

Certa vez, ouvi do ator Luiz Gustavo como foi sua estréia nos palcos da extinta TV Tupi nos idos dos anos 50.

Ele era um garoto que andava pelos bastidores da emissora do Sumaré, em São Paulo, onde hoje funcionam a MTV e a ESPN Brasil. Tinha livre acesso aos estúdios por ser cunhado do faz-tudo Cassiano Gabus Mendes, que depois se transformou num grande autor e diretor de novela da TV Globo.

Luiz Gustavo chegava no início da tarde e só ia embora por volta das 23 horas quando as transmissões se encerravam após o noticiário Diário de S.Paulo na TV, com os jornalistas Tico-tico, Carlos Spera e Maurício Loureiro Gama.

No entanto, o que mais ele gostava de fazer era acompanhar as montagens do TV de Vanguarda que ia ao ar aos domingos, e sempre ao vivo – não existia vídeo-tape. A coisa era na raça e em preto-e-branca.

Quase sempre o teleteatro encenava clássicos da dramaturgia mundial, e os atores de então – Lima Duarte, Márcia Real, Cleide Yáconis, Hamilton Fernandes, Raul Cortês, Juca de Oliveira, Araci Balabanian, entre outros – começavam a ensaiar na sexta para na noite de domingo enfrentarem as câmeras e o desafio da representação.

Óbvio que os erros eram comuns. Mas, os atores improvisavam, e sempre davam um jeito de se divertir e que tudo terminasse bem.

Um dia, o inevitável aconteceu. Um figurante faltou, e precisavam de alguém que o substituísse. Nada de especial. Ele seria um mensageiro e teria que entrar em cena num dado momento. E responder: “Sim, meu rei“.

Claro que sobrou para o menino Tata – apelido do ator. O cunhado, zeloso como só e acontecer, simplificou ainda mais.

— Tatá, você entra em cena e diz apenas: “Sim!”, ok?

Perfeito. Nenhum mistério. Fácil.

Cassiano, porém, não contava com o bom-humor dos outros atores. O teleteatro era dividido em três atos. E o garoto nervoso esperava a vez de dar seu recado logo no início do terceiro e último ato.

Enquanto a montagem corria solta, já com a TV no ar, os atores entravam e saíam de cena. Mas, antes perturbavam o pobre estreante.

— Olha lá, já sabe o que vai dizer?

— Sei.

— Sei, não. É sim. Sim, ouviu.

Vinha outro e dizia:

— Não é sim. É não.

— Não ou sim? Era sim, agora é não.

Um terceiro reforçava a confusão.

— Sim, é não.

— Ai, meu Deus.

E mais um aparecia.

— Não, não põe Cristo na História. Estamos em Roma, lembre-se em Roma. E o não é sim, entendeu…

Sim, não. Não, sim. Sim. Sim. Não. Não. A cabeça do menino parecia um tamborim. Chegou a hora. O mensageiro Tatá entrou em cena e, seguro de si, resolveu dizer a frase toda.

— Nim, meu Sei, Nim…

(Trecho da crônica de Natal, "Um ano SIM", republicada hoje em Parangolés)

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