Mais um ato dessa ópera chamada VIDA.
Uma noite comum de novembro de 2004.
Fui para a aula do Unifai, na Vila Mariana. Sociologia Aplicada à Administração, uma disciplina difícil para um jornalista/professor, avesso aos números, falar para quem vive, respira e parece só quer entender de números, cifras, balanços…
Primeira horário, a turma gélida, como se eu falasse grego em plena Mauritânia. Penso umas oito vezes, mesmo falando, falando… Ano que vem não devo continuar. Não é minha praia. Minhas palavras não são as águas que o pessoal quer se banhar.
II.
Horário seguinte. Outra turma de Administração, mesmo semestre. Mesma aula. Encanto, sei lá? A platéia arregala os olhos. Ouve. Motra interesse e eu abandono o roteiro sobre Interação Individual e Organizacional.
Falo da busca da felicidade que cada um de nós deve promover, onde quer que seja. No trabalho, no lazer. Na vida.
As luzes da sala se apagam. Mas, as do prédio e da rua continuam acesas! Estranho. Peço para um dos alunos — todos estão distantes do interruptor — tentar acendê-las.
Uma leve pressão dos dedos e a sala clareia. Brilho bom de quem
vive um momento único, singular.
Sigo com a disciplina. Passo um vídeo. Os alunos aplaudem como se fossem espectadores de um solene espetáculo. Estranhei, nunca aconteceu. Compreendo: acabaram de ver um belo ato dessa instigante ópera chamada VIDA.
Na seqüência, encerro. Resumo alguns pontos do belo documentário, orientado pela professora Heidy Vargas. Chama-se As Marias de São Paulo. De novo, voltam a aplaudir. Sinto que levarão consigo algo de muito bom, de empenho e fé. Neles próprios e no futuro. Tomara…
III.
Sinto-me confortável. A segunda aula compensou a primeira.
Hora de voltar para casa. Entro no carro, volto calmamente pela rua Santa Cruz e, sem mais nem menos, acende a luz que fica em cima do retrovisor, a que ilumina o interior do carro.
Ué…
Tento que tento desligá-la e não consigo. Paro num posto, pego o manual e refaço os procedimentos que fiz anteriormente. Por encanto, a luz se apaga…
Chego cansado, mas feliz. Quero me preparar para as aulas de amanhã.
IV.
Toca o telefone. Ouço a voz nervosa da minha irmã Doroti.
— É o Renato (filho dela, 32 anos) tá na delegacia.
Não sei o que dizer, o que pensar…
Ela continua. Desespero sobre o meu silêncio.
— Foi atropelado.
Como assim?
— O delegado falou que foi às 21h40 na Imigrantes.
Entendo que nada pode ser feito…
De pronto, a lembrança. A aula começou às 21h15.
A luz que se apagou…
Carlos Renato, meu sobrinho/afilhado.
Escolhi o nome quando nasceu.
Porém, não soube protegê-lo
nos entreatos dessa ópera chamada VIDA.