Encontrei as anotações do pronunciamento que fiz na última cerimônia de colação de grau que participei, dia 1º de setembro, se bem me lembro. Foi da turma de jornalismo da Universidade Metodista que se formou em junho deste ano.
Minha fala teve um tom de quase-desabafo. Um acerto de contas comigo mesmo e com os (des)caminhos que tracei vida afora.
Vou tentar reconstituí-lo. Vamos ver se consigo…
II.
Boa noite a todos e todas…
Tenho dois bons motivos para ficar feliz sempre que venho a solenidades de colação de grau.
O primeiro tem um caráter bem pessoal. Não pude estar aqui, neste mesmo salão nobre, há alguns anos, quando meu filho, também Rodolfo, se formou jornalista. Naquela noite, por óbvios motivo, fiquei retido na Redação e não consegui chegar a tempo.
Coisas da vida de um repórter que, a partir de agora, vocês, prezados alunos, também poderão enfrentar.
Então, a cada nova colação de grau, imagino ser uma forma de saldar parte daquela ausência, inexplicável aos olhos de qualquer mortal, que não seja jornalista. Felizmente, o filho entendeu a situação – afinal, também é jornalista.
O segundo motivo também tem um caráter pessoal. Mas, é assim um agradecimento que faço a cada um de vocês e, por extensão, a cada um dos meus alunos que tanto têm me ensinado nesses oito anos de vida acadêmica.
III.
Falar para vocês é uma honra. Incentivá-los, neste momento de transição, é uma forma de retribuir a vida que em mim renasceu assim que cheguei ao campus Rudge Ramos, em março de 1998.
Explico.
Há um momento – ou vários – em nossa vida profissional em que nos sentimos desacorçoados, algo debilitados, quase-quase a entregar os pontos, os ideais e os textos.
A lida na redação não é simples, e há dias que se tornam a mais escura das noites. Nada parece fluir, fazer sentido. De alguma forma, temos a alma trincada por não ver os resultados que tanto almejamos com o suor diário.
Há um sentimento de cansaço por lutar as mesmas lutas. Sonhar os mesmos sonhos. Escrever o mesmo texto zilhões de vezes. A impressão é a de que martelamos a ferro frio a utopia da construção de um mundo melhor.
IV.
Agrava ainda mais a situação um cacoete típico dos jornalistas. Imaginamos que o mundo é feito de jornalistas. Só temos amigos jornalistas, parentes jornalistas, conhecidos jornalistas. Namoramos jornalista. Há até quem case com jornalista – várias vezes e simultaneamente. Alguns chegam até a acreditar que o próprio dono do jornal é jornalista…
Só um reparo. Em época de eleições, inventamos outras duas espécies: a do cientista político para comentar o óbvio e os diretores dos institutos de pesquisas.
V.
Nessa toada, é comum que, em determinado momento, queiramos abandonar o barco: criar galinhas, vender coco na praia, abrir um restaurante ou mais recentemente montar uma pousada numa praia perdida do Nordeste brasileiro. Duvido que exista alguém que tenha habitado, por um período razoável, uma redação e não ouviu nenhum resmungo desses.
Vale qualquer coisa, menos permanecer nessa tal roda-viva…
Confesso a vocês que, no meu caso, a crise não era das mais agudas. Mas, inspirava cuidados. E assim, meio que pelas tabelas, aportei na Metodista para dar umas aulinhas de linguagem jornalística.
VI.
A convivência com os estudantes, pouco a pouco, resgatou uma série de possibilidades que em mim soavam impossíveis. Perspectivas que me eram perdidas nos escaninhos do ‘deixa-pra-lá’. Entre as quais, a de que há vida se renova a cada manhã, inclusive nas redações. Ou melhor, apesar das redações.
Descobri um certa revolução silenciosa em andamento. E o melhor: feita candidamente por um punhado de meninos e meninas barulhentos.
De alguma forma, comprei a briga. Me vi assim como a passar o bastão para essa rapaziada. De quebra, comecei a reconhecer, aqui e ali, ideais que um dia foram meus e os abandonei à beira caminho. Agora reapareceram nítidos, luminosos nas mãos e em projetos desses jovens que não se entregam aos modismos, à letargia e à figuração.
VII.
Agora, prezados, vou falar diretamente para vocês. Reparem. Se foram capazes de recuperar o entusiasmo e a fé na profissão deste senhor de idade provecta que lhes fala, imaginem o que podem fazer pelo jornalismo, o jornalismo pelo Brasil e o Brasil pelo Planeta. Vamos à luta, pois…
Todos precisamos de vocês…
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