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Artistas, artistas. Negócios à parte

Trabalhei por longos anos como repórter de Cultura. Fazia reportagens, entrevistas, críticas, comentários de discos e shows dos "astros e estrelas" da música popular brasileira.

Aliás, quando comecei em jornalismo, imaginava ser este o caminho que iria seguir vida afora, como na canção "fazendo música, jogando bola (nos fins de semana, claro)".

Não raras vezes percebi o quanto instáveis são os humores de alguns dos nossos ídolos. A bem da verdade, na virada de uma incerta montanha chamada Tempo, percebi a superficialidade e o oportunismo com que muitos tratam a imprensa. Aos que falam bem e elogiam, sobram sorrisos. Aos que ousam dizer que os moços não são tão bons assim, ai, ai, ai… Sai de perto…

Por isso, não me surpreende nada a manifestação dos artistas, assustados com a
possibilidade de dividir com os esportistas o bolo do dinheiro público. Que tristeza!
Gente, o País tem outras prioridades. Ou será que ando tão insensível assim às artes e à cultura…

II.

Aliás, também não me surpreendeu a decisão de Roberto Carlos de processar o autor da biografia recentemente publicada "Roberto Carlos em Detalhes", feita pelo jornalista Paulo César Araújo.

Que novidade!
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Era nítido que o Rei ia chiar, especialmente porque o livro – que não li – se propõe a tratar não só o mito, mas também o homem, com defeitos e virtudes.

Em entrevista coletiva, Roberto insinuou que a obra não é condizente com a realidade dos fatos. Expõe a vida dele e de outras pessoas queridas. Disse também que vai escrever uma autobiografia, mas no tempo certo. E concluiu:

— Ninguém vai contar minha história melhor do que eu.

III.

Palavra de Rei não volta atrás, é verdade. Mas, por vezes, é enganosa.

O próprio Roberto a falar de si vai apenas dar a sua visão dos fatos, sem o devido distanciamento crítico inerente a todo livro-reportagem, como se propôs fazer Paulo César Araújo. Que obviamente se defendeu:

— O livro é uma pesquisa histórica séria. Um mergulho na música popular brasileira que tem Roberto Carlos como fio condutor.

IV.

Três casos ocorridos aqui mesmo na Faculdade Jornalismo e Relações Públicas da Universidade Metodista. Vou omitir os nomes para evitar aborrecimentos futuros, mas expõem claramente a mesma situação, ainda que com projeção menor. Mas, serviram de lições aos estudantes e a mim.

01. Como orientador, escolhi junto com um grupo de estudantes um ator veteranaço com belo currículo para homenageá-lo. Faríamos um livro reportagem sobre sua vida, como trabalho de conclusão de curso. Depois de duas sessões de entrevistas, o homem dizia não ter tempo para nos receber. Insistimos, insistimos, e ele nos confessou. Gostou da idéia de um livro sobre sua vida. Por isso, já estava negociando com uma editora sua autobiografia que ele próprio escreveria, lógico. A partir daí, não queria concorrentes. Não nos daria mais entrevista…

02. Outro grupo. Outra celebridade do mundo cultural. Também outra dispensa. Sua filha estava estudando jornalismo e achou ótima idéia para o TCC dela. Os alunos sobraram de novo…

03. Documentário de TV. O cantor/compositor entusiasmou-se com a idéia de ver sua vida focalizada na Academia. Quase no fim do semestre, mudou de idéia. Ele seria o professor-orientador. Ou nada feito…

Enfim, artistas, artistas. Negócios à parte…

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