Parte 3 – Prólogo
Dez e pedradinha, nem sinal do Marceleza. Cerveja rolando.
Todos riam desbragadamente. Não sei dizer o que pensava. Sentia-me um ser inanimado, um vegetal. Uma sambabaia, talvez.
Apareceram mais quatro carros. O grupo estava fechado. Finalmente.
Um dos recém-chegados foi direto para o amigo-quase-irmão e organizador.
— Vai falar do Marceleza e da Suzan Suzana – pensei, tolamente.
Aliás, todos que aqui me lêem sabem: tenho uma tendência a imaginar coisas…
— Vambora, gente, vambora.
Estava num torpor próprio dos desvalidos quando o grito de debandada geral me despertou.
— Vambora, gente, vambora.
Fez-se uma longa e sinuosa fila de carros. Não sei precisar quantos. Saímos ruidosamente do posto. Seguia bovinamente a turba sozinho no meu carro. Buzinaço. Sinais de farol. Uma farra. Senti um gosto amargo ao deparar-me com uma placa “Não sei o quê, Não sei o que lá e Cangaiba”.
— Quem tem um amigo como o Marceleza não precisa de inimigos, resmunguei para mim mesmo. É a cara dele aprontar dessas. Imaginei a cena do do ‘rei das paradinhas’ às voltas com berço, cortinas, móbiles. A preparar o quarto da herdeira, a bela Sofia, que logo chegaria.
Claro que o perdooei na hora. E ri da minha própria ingenuidade…
Olhei o relógio do carro: 23h47. Cangaíba é demais (que me perdoem os cangaibenses). Não resisti à primeira sinalização de ‘Radial Leste – Retorno’. Numa rápida manobra abandonei a comitiva dos amigos dos amigos do amigo-quase-irmão do Domingos.
Há tempos não me sentia tão senhor de mim, das minhas vontades e querências, com uma simples manobra. Aliás, preciso fazer isso mais vezes na vida…
Além do que, ponderei: a tal da Suzan Suzana nem era tudo isso.