Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

Manhãs de sábado

Gosto das manhãs de sábado.

Gosto especialmente quando
não há qualquer compromisso
e posso aqui me largar
a ruminar o post de hoje.

Histórias, aliás, não me faltam
e, não raras vezes, se atropelam,
sobrepõem-se umas às outras,
que as confundo e nem sei
se as escrevi ou não…

II.

Uma dessas confusões se dá
com a história que narro a seguir
e, aliás, como a maioria dos causos
que conto, se passa em plena redação
do jornal Gazeta do Ipiranga.

Julho, agosto, não lembro bem
o mês; o ano é desnecessário
dizer, mas haveria eleições.
Lá estávamos a enfrentar, com
nossas ululantes olivettis, a lida
diária que aos fracos abate e
só dignifica os fortes, como
nos imaginávamos…

Eis que chega a decidida senhora,
atuante líder comunitária de um
dos 32 subdistritos (vilas e jardins)
do Grande Ipiranga. Veio anunciar
que seria candidata à Câmara Municipal
pelo partido X+Y e cousa e lousa
e mariposa, como de praxe fazem
todos pré-candidatos a um cargo público.

III.

Entendi o desvelo da senhora.

Pedi à repórter Regina Maria Curuci
— por onde anda essa moça? –
que a entrevistasse e fizesse o texto.

Em seguida, solicitei à telefonista
que pedisse ao repórter-fotográfico
Cláudio Michelle – o saudoso
e imprevisível Clamic – que subisse
para fazer a foto que
ilustraria a reportagem.

Nada de anormal até aqui…

IV.

Enquanto a Regina conversava
com a candidata a candidata, Clamic
fazia seus flashs. Indiferente a tudo
e a todos, com jeitão taciturno.
Até que a senhora resolveu
fazer uma observação, digamos,
inoportuna, desaconselhável…

Como antecipei a vocês,
o Clamic era imprevisível.

— Olha, moço, capricha nas fotos, tá?
Desconfio que, da outra vez em que
me candidatei, perdi a eleição
porque a foto que você fez me
deixou monstruosa. Só pode ser, né?

V.

Tentei intervir. Mas, em vão…

O lado eqüino do Clamic já relinchava
a resposta e o coice, inevitável:

— Não minha senhora, não pode ser.
E digo porquê: meu negócio é fotografia
– e só fotografia.
Milagre é outro departamento.

E mais não disse porque
nada mais havia para ser dito.

As partes deram por encerrada
a entrevista. Para o bem geral de todos…

VI.

Mas, voltemos às manhãs de sábado.

Quem também fica em alvoroço
nessas manhãs é a turma de personagens
que ganhou vida nas crônicas deste blog.

Eles estão abusados…

O amigo Marceleza – o paulistano
mais carioca que conheço – mandou
um intermediário me dizer, quase
em tom de segredo, que logo logo
vai me convidar para umas ‘paradinhas
de sucesso’ imperdíveis, tipo a
que relatei em Despedida de Solteiro,
postada em 23 de fevereiro…

Agradeci a deferência.
Mas, a resposta foi bem objetiva.

— Peça ao Marceleza, por favor,
me incluir fora desta e de todas
as outras que, por desventura,
vier a promover…

VII.

Outro que está louco para
reaparecer aqui é o poeta, parceiro
Dinoel, que adotou o nome
artístico de Dinho.

Não tocou no assunto Dagmar
– esta sumiu de vez –, mas disse
que está com novo sucesso na praça.

E enviou letra. Confiram:

“Olha
você têm todas as coisas
que eu dia eu sonhei para mim
a cabeça cheia de problemas
não me importo eu gosto mesmo assim
tem os olhos cheios de esperanças
de uma cor que mais ninguém possui
me traz meu passado e as lembranças
do que eu sempre quis ser e que não fui
olha você vive tão distante
muito além do que eu posso ver
e eu que sempre fui tão inconstante
te juro o meu amor agora é pra valer
olha vem comigo aonde eu for
seja a minha amante e o meu amor
vem seguir comigo o meu caminho
e viver a vida só de amor”

VIII.

Respondi abestalhado,
com a cara-dura do moço:

— Dinoel, concordo: a música
é bonita, mas antiguinha. Do Roberto
e do Erasmo. A Gal e milhões de
outros cantores já gravaram.
Inclusive, é parte da trilha
da nova novela da Globo, numa
versão meio bossa-nova, com o Chico.

No que Dinho me respondeu…

— Meu caro, pergunta para o Chico
de onde ele tirou essa idéia
de gravar Roberto e Erasmo?

!!!!!!

— Pergunta também onde ele
estava no entardecer de um sábado
em janeiro, quando o Dinho aqui
fez um show histórico no Barra Shopping,
no Rio? Quem me aplaudiu de pé?
Pergunta? Pergunta?

IX.

Diante da minha perplexidade,
concluiu com a voz mais cínica
que já ouvi – e, olha, que venho
de um doutorado em lidar com
gente cínica vida afora…

— Meu caro, eu não sei se ele lembrou
da Marieta ou daquela outra moça…
Sabe qual? Aquela que saiu nos jornais?
Bem, não posso afirmar. Mas, garanto
que se emocionou. Posso até dizer
que fiz chorar os tão amados olhos verdes.

!!!!!!

— Não sou fraco, não, véio. Fui…

X.

Delírios à parte…

O Dinoel que me perdoe
a indiscrição. Mas, assim que
ele foi embora, descobri o motivo
da nova velha canção…

Não tenho dúvidas. O verso
"… a cabeça cheia de problemas
não importa eu gosto mesmo assim"
é ou não é a cara da Dagmar?

[Esse texto foi editado e publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]

Verified by ExactMetrics