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Barbarella e o anjo

Lá nos antigamente, quando completei 18 anos, os cinemas da cidade exibiam… Barbarella, de Roger Vadim. A estonteante Jane Fonda fazia o papel de uma terráquea em pleno século 41. Era uma agente com a insignificante tarefa de salvar a Terra da ameaça de uma guerra interplanetária. Finalmente, o Universo vivia um tempo de paz, mas uma força das trevas queria por fim à toda essa harmonia. Acho que era assim o enredo ou, no mínimo, algo bem próximo a isso.

Jane Fonda era casada com o diretor na vida real. Jovem e loira, na linha das sucessoras da francesa Brigite Bardot, também ex-senhora Vadim, vulgo o pegador. Ela disputava tal legado palmo a palmo – ou melhor, curva a curva – com outras beldades lindas e loiras como Ann Margret (Viva Las Vegas, ao lado Elvis Presley), Ursula Andrews (007 Contra o Satânico Doutor No, com Sean Connery de peruquinha para esconder a calvície), Raquel Welch (um punhado de filmes menores, dos quais sequer me lembro o nome) e a também francesa e outra ex-senhora Vadim, Catherine Deneuve (A Bela da Tarde).

Dá para notar que, por motivos óbvios, assuntos cinematográficos sempre me interessaram – e muito.

Foi com esse entusiasmo que fui assistir ao filme. Entusiasmo que aumentou entusiasticamente quando os jornais – santos jornais e jornalistas – divulgaram que a película começava com um strip da heroína intergalactica. Ela se despia das pesadas roupas de astronauta a levitar dentro de uma câmera de vidro transparente para êxtase e alegria dos meus olhos juvenis, gulosos e sonhadores.

Certamente, é uma cena que deve figurar em qualquer antologia do cinema mundial. Mas que, vista pelos parâmetros atuais, pode ser exibida sem cortes em qualquer aula de catecismo, dada à sua ingenuidade na perspectiva dos usos e costumes de hoje.

Enfim…

Nunca mais revi o filme. Mas, também não o esqueci, como percebem. A bem da verdade, uma música da época (fim dos anos 60) contribuiu para tanto. Apareceu no disco País Tropical, de Benjor, que ainda atendia pelo nome de Jorge Ben. Eu gostava de cantá-la. Óbvio, era uma canção de amor à Barbarella.

Eis a letra:

"Na dimensão azul e rosa
No infinito celestial da quinta galáxia
Quem me dera eu ser intergaláctico
Para dormir nas estrelas
Só falando de amor com você
Pois eu sonhei com você, Barbarella
Eu sonhei com você, Barbarella
E no meu sonho o céu explodiu com tamanha concussão
Que um asteróide danificou minha bela astronave
Me mandando de volta pra terra
Mas, eu sonhei com você, Barbarella
Eu sonhei com você, Barbarella
Barbarella, meu desejo
Uma terrestre pra frente
Barbarella, a Vênus em pessoa
No próximo foguete pra lua
eu vou atrás de você
Ora se vou
Mas, eu sonhei com você, Barbarella
Eu sonhei com você, Barbarella"

Mas, querem saber? Inesquecível e divertida mesmo é outra cena. Entre uma batalha e outra, a musa encontra um anjo cego, interpretado por um ator loiro, altão de porte atlético e grandes asas. Claro que a moça – que, como bem disse Benjor, era uma terrestre pra frente, moderninha – trata de seduzir o bonitão na primeira oportunidade. O anjo, por sua vez, topa a parada de muito bom grado. É anjo, mas não se faz de rogado e não está morto, diga-se. Porém, avisa que a transa futurista não tem nada a ver, com o que a humanidade praticou, durante séculos e séculos de atraso e tédio.

Naquele pseudo tempo futurista, a coisa toda é mais acéptica. Instantânea. Time is money, ok? Os parceiros tomam um comprimidinho e se postam um de frente para o outro. Encostam a palma da mão esquerda, um na mão do outro, e trocam vibrações fantásticas. Uau!!!

Dá-se o primeiro ronde – e nossa heroína volta a si levinha, levinha. Sempre cordial, o anjo faz aquela pergunta básica nessas horas – e que sempre foi básica desde que o mundo é mundo e nós somos nós.

— Foi bom meu bem?

Educada, Barbarella diz que sim. Foi legal. "Prafrentex" que é, toma a iniciativa e propõe uma segunda rodada. Só que, desta vez, insiste ela, à moda antiga.

O anjo está entregue – e não tem como dizer não. O que se vê, então, nas cenas seguintes são penas e mais penas que voam da asa do dito cujo — aliás, nada mais é preciso mostrar para que a platéia entenda o que se passou. Óbvio que, na flor da idade, morri de inveja.

Minutos depois os personagens reaparecem em cena e é a vez do moça fazer a célebre pergunta:

— E aí, anjão, gostou?

O ser alado mesmo cego parece ter visto estrelas. Enquanto apluma o que restou das asas, não tem dúvida em afirmar:

— À moda antiga, reconheço, é muito melhor!!!

Não me recordo se partiram para um terceiro ronde. Mas, é bem provável…

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