Foi antes do feriado.
Cena de novela do Gilberto Braga. O casal conversa. Um reencontro depois de anos sem se ver. Mas, não sei, o clima ali era de cumplicidade como se nunca houvera a distância e o tempo. Lá pelas tantas escorregam para um assunto que, desconfio, fosse tabu para eles. Um assunto que sempre evitaram quando estavam juntos.
Eram carinhosos um com o outro e com o quê viveram.
— E como o chamaríamos, então?
— Biel, de Gabriel. É bonito…
— Ai, ai, ai. Biel é apelido de surfista…
— Que tal Bi?
— Lembro que você namorou um surfista. Você nem disfarçava que a paixão ainda existia e eu morria de ciúmes.
— Dele e de todos os que se aproximavam de mim.
— Pois é. Sou um bobo mesmo. Tinha ciúmes até da própria sombra. Mas havia lá minhas razões.
— Que bobagem. Biel ou Bi. Não sei?
— Dá na mesma. E se viesse uma menina?
— Menina? Eu tinha um nome escolhido. Qual mesmo?
— Não precisa lembrar. Pois, eu escolheria o nome.
— Ah, é… é. Nome de alguma ex…
— Chamaria Beatriz. Quer dizer bela, formosa. E seria, pois se pareceria com a mãe.
— Bia. Ou Bi?
— Engraçado. Poderíamos ser pais de dois Bi(s) ou Bi e Bi. Assim os apresentaríamos as pessoas: “Este é o Bi e esta é a Bi. Bi-bi.”
— Que bobo. Às vezes sinto falta das suas palhaçadas.
— Ele ou ela estaria nascendo por esses dias…
— Nossa, é verdade. Nem me dei conta.
— Que susto levamos…
— Eu levei, né. Você sempre disse que era alarme falso.
— A gente sempre se cuidou. Mas, você entrou em pânico e eu fui na onda. Não lhe falava, mas também fiquei preocupado. Imaginei nascer um bebezinho com as mãozinhas fechadas, segurando um monte de pílulas. E fazendo o sinal de top-top para nós.
— Eu sou meio louca mesmo. Cismei.
— Foi melhor assim.
— Semanas depois estávamos separados.
— Na verdade, acho que nunca estivemos juntos. Pelo menos você nunca me passou essa certeza.
— Pronto, começou…
— Eu começo e você termina. Em resumo, sempre fomos assim, não é?
— Você não entende mesmo.
— E você? Você se entende?
— Essas coisas não se escolhe. Acontecem. Conheci uma outra pessoa e…
— Poupe-me dos detalhes sórdidos.
— Vai começar a me criticar, eu vou embora. Quando começa assim, fico me sentindo péssima. Cheia de culpas. Sei lá. Por isso que… Ah, deixa pra lá.
— Somos as nossas escolhas, bonita. Você fez a sua. E que escolha. Sem comentários.
— Páraaa…
— Você é feliz?
— Eu estou bem.
— Estar bem não é ser feliz.
— Estou bem. Você não entende. É muito pé no chão.
— Já sei, já sei. Tem bons momentos, uma galera divertida, deu a louca, faz e depois vê o que dá…
— Deixa pra lá. E você? Quero saber de você?
— Pra quê? Mas, vá lá. Sinto falta do que sentia por você.
— Ham, sei. Soube que viajou…
— Outra das tantas escapada que gosto de fazer. Fiquei fora um tempo.
— Você sabe: continuo achando que a nossa história ainda não terminou.
— Conta outra, vá. Não tenho essa ilusão. A gente se encontrou hoje por acaso. É raro eu vir para esses lados da cidade. Não me leve a mal: foi você que terminou a nossa história – que tinha um quê de magia, encantamento, de feitos um para o outro.
— Páraaa… Não quero ficar triste. Eu vou indo…
— Adeus,.
E assim termina a crônica. Sem o final feliz que os leitores queriam – e, confesso, eu também. Mas, infelizmente nem tudo é exatamente como a gente quer…
Deixa chover, ôôô…
Deixa a chuva molhar..
Dentro do peito tem um fogo ardendo
que nunca… nunca
vai se apagar
Grande Guilherme Arantes!
E quem quiser que conte outra.