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Um dia cinza

“Se quiseres ser curado,
descobre a tua ferida” — Boézio

Há dias que são mais assim do que outros. Sabe-se lá o que pesa, incomoda, desassossega a alma. Mas, a verdade verdadeira é que eu, você, todos nós estamos sujeitos a esse tipo de tristeza inominável, que mal sabemos de onde vem ou para onde vai…

E a mãe da gente se preocupa…

— O que você tem filho?

O amigo pergunta…

— E as boas?

Mas, quem nos conhece sabe a resposta.

— Não tenho nada.

— Não há boas.

Em casa, não escapamos do interrogatório sobre o que se tem ou deixa de ter. Só que nem você mesmo tem a resposta. Acordou em pedaços, feito um filet aperitivo. E agora, feito um carro a álcool das antigas, com a bateria arriada, tem mais é que pegar no tranco e enfrentar um longo dia de trabalho.

Os mais corajosos tentam melhorar o que se convencionou chamar de “astral”, como se fossemos sol, lua ou qualquer outro corpo celestial. E falam e aconselham e recomendam. Valem exemplos idos e vividos, poções mágicas que curam cara-feia, remédios milagrosos, piadas de todos os níveis e gostos, consultas ao horóscopo e os esgarçados chavões, tipo “poderia ser pior” ou “melhor assim, ao menos você está empregado”.

Assim a gente vai levando, tocando em frente, fazendo o tempo escoar pelo vão dos dedos da mão. Por mais otimistas e bem-humorados, imagino que, em algum momento da vida, todos nós já enfrentamos a barra “de estar pra baixo”. Aí, companheiro, não há Dalai Lama ou Paulo Coelho que dêem jeito.

Um velho e saudoso amigo dizia que a gente sempre sabe aonde “aperta o nosso sapato”. E olha que ele, o Zé Armando, nem chegou a conhecer as mutretas dos dias atuais. Esse clima de fast-food em todos os níveis. O vale tudo das emoções bizarras. O deixa estar para ver como é que fica.

Zé Armando era do bem. Dizia que, nessas ocasiões, devíamos fazer um sincero exame de consciência e, despachadamente, enfrentar as questões que nos afligem e, sem tentar encontrar justificativas ou argumentos, exibi-las aos próprios olhos e tentar resolvê-las. É certo que haverá algum custo pessoal e/ou financeiro, ou os dois. A vida é assim. Há sempre um preço a pagar.

Para os brasileiros, que vivem no reino da impunidade, outra expressão adequada seria: “há sempre um imposto a pagar”. Mesmo assim, tal e qual bula de remédio, recomenda-se saber quais os problemas que nos incomodam e/ou os inimigos que rondam nossa moradia.

Melhor enfrentá-los do que ficar se remoendo pelos cantos, arrastando-se estrada afora em queixas e lamentações que, se olharmos com profundidade, não são tão importantes. Mesmo em dias de lua cheia como os atuais.

O post não tem resposta para tantas questões. Aliás, para ser sincero, nem eu tinha qualquer história para lhes contar hoje. Tanto que fui buscar lá na seção “Caro Leitor” e adaptei um texto que melhor refletisse a sexta-feira inexplicavelmente triste.

Ademais, é sempre oportuno falar da vida. Afinal, há textos que são mais assim do que outros.

* Fim do post, mas não da vontade de enfileirar letrinhas para meus diletos cinco ou seis leitores. Ou como dizia minha avó Ignês há tempos:

— Ruim com ele, pior sem ele.

Referia-se ao meu avô Carlito, breaco e instável como todos os napolitanos, que lhe levava num couro cortado até que faleceu num dia de outono.

Mas, eram outros tempos. E uma outra história que fica para outro dia menos cinza…

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