Dormi o sábado todo.
Tanto, mas tanto que até perdi a hora de blogar.
Há um motivo, ao menos justificável, para o pesado sono. Estava me preparando para a terceira edição da Virada Cultural paulistana. Perdoem-me. Mas, considerem. Não sou mais um menino. Como então aproveitar essa notável promoção da Prefeitura de São Paulo em nome das artes? Há uma ênfase especial para a música popular – e vocês sabem o quanto gosto de música. Ao menos, fica clara essa paixão em todos meus post-crônicas…
A partir das 18 horas de hoje, serão aproximadamente 350 atrações a se revezarem em diversos palcos espalhados pelos quatro cantos da cidade. De Nação Zumbi a Erasmo Carlos. De João Bosco a Edgard Scandurra. De Juca Chaves a Fernanda Porto. Há opções para todos os gostos.
Por isso, fiz questão de estar inteiro para a maratona de espetáculos. Não posso perder o show de Alceu Valença que abre a Virada, na Praça da Sé de tantas histórias. Depois quero ver o Erasmo e o Clube do Balanço no Teatro Municipal, ali na Praça Ramos de Azevedo. Ah! Tem também o show da Tetê Spindola, no CEU Navegantes. Diz a nota que leio nos jornais: “A compositora instrumentista, dona de voz inconfundível, fará uma aula-show, com direito a canções inspiradas no canto dos pássaros”.
Canto dos pássaros? Sei, sei.
Acho que deve ser o mesmo espetáculo – ou muito próximo a ele – que a editora Beth Caló me incumbiu de cobrir para o Caderno de Cultura do DCI, ainda nos anos 90. Inesquecível.
Fui na estréia. Havia cinco pessoas na platéia e eu. Tetê vinha de uma temporada de pesquisa na Amazônia, me parece. Colheu uma série de cantos de pássaros nativos. A partir daí, bolou o show experimento que obedecia o seguinte roteiro. Os cinco ou seis espectadores de Tetê ouviam a gravação do canto original do pássaro e a seguir a cantora o reproduzia igualzinho, igualzinho. Outro pássaro, outra gravação e outra perfeita interpretação.
Foi hora e meia de espetáculo assim…
Em determinado momento da apresentação, ela desce do palco com o microfone na mão. Imita um pássaro e pede a um espectador que reproduza o mesmo som.
— É fácil, ouça…
Pode ter sido simples para os cinco presentes – até porque não estranharia se fossem parentes e conhecidos da moça. Mas, para este pobre escriba foi um inenarrável vexame.
Quando ela imitou um bem-te-vi e pediu para que euzinho a acompanhasse na interpretação, só consegui dizer um acabrunhado:
“Ham! O quê? Como assim?”
Foi traumatizante.
Tanto que nem consegui fazer o texto para o jornal. E até hoje, vez ou outra, sempre que ouço o cantar de um bem-te-vi, disfarço e trato de sair rapidinho do lugar. Imagino que o bichinho está tirando uma da minha cara. Me dá um complexo de inferioridade. De incompetência sonora musical. É triste…
Pode ser exagero. Mas vou deixar para outra ocasião.
Restaram Alceu e Erasmo…
Como assim, o show do Alceu foi às 18 horas? O do Erasmo está para começar? Mas, eu moro em São Bernardo. Até chegar lá, já era…
Então, vamos a única virada que me resta. Vou desligar o computador, dar uma virada na cadeira, me atirar na cama e voltar a dormir…