Aprendi cedo que o leitor tem sempre razão.
Para tanto foram fundamentais os longos anos que trabalhei no semanário Gazeta do Ipiranga – aliás, já postei aqui vários causos que assombraram e divertiram o casarão da avenida Bom Pastor. Entrei rapazola ali, aos 23 anos; saí 28 anos depois. Aos 27, era editor do jornal e diretor responsável.
Recém-saído da Universidade de São Paulo, queria reproduzir ali o dia-a-dia das grandes redações, com todo agito e compromisso, sob o lema: “A verdade, doa a quem doer”. No entanto, tudo o que planejávamos nas reuniões de pauta virava nota de roda-pé na edição da sexta-feira seguinte.
Nós, editores e repórteres, não conseguíamos pautar o jornal. Por um simples motivo: os próprios moradores e as entidades representativas locais traziam as notícias até nós, com lead e destaque necessários. Éramos os intermediários entre as reivindicações e anseios e os nobres leitores, do tradicional bairro paulistano.
Por mais que nos reuníssemos para fazer o ‘espelho’ do jornal, todos os prognósticos eram coisa do passado alguns dias depois, dada a invasão de informações que recebíamos por cartas, telefones e até pessoalmente. Os moradores do Ipiranga achavam que o jornal era deles — o que, em essência, é verdade. Assim, a Gazetinha ia para as ruas do jeito que o povão queria. Acrescento: como jornal de bairro GI fez história e a gente ajudou um pouquinho.
II.
Não sei, não. Acho que o processo está se repetindo na dinâmica deste blog.
Explico.
Há alguns temas de post que carrego comigo há semanas. Trago também reportagens que fiz. Recuperei os originais e gostaria de indexá-las. Mais: as entrevistas com diversas personalidades da MPB. Etc etc etc. No entanto, toda vez que penso em escrevê-los, felizmente aparece um leitor com alguma boa proposta e muda o rumo da conversa.
As últimas semanas são exemplares neste sentido. Perdi a conta dos posts que fiz a pedido dos internautas. Hoje será mais um desses dias.
III.
E por uma causa justa.
É que recebi um carinhoso email de uma querida e distante amiga. Ela se surpreendeu positivamente ao “vasculhar” o blog e cousa e lousa e maripousa. Deixemos de lantejoulas…
Mas, não é este o único motivo para registrar a ilustre visita. Chamou minha atenção o seguinte trecho do email que me enviou:
“Às vezes, penso que o crescer só faz a gente ficar mais chato. Idiotiza. O capitalismo selvagem, a rotina e o "ter para ser" acabam nos distanciando do bom da vida e nos deixando um pouco cegos, esquecendo da satisfação que há ao ouvir uma música que arrepia, no bate-papo com amigos, no carinho, na paixão – por alguém ou por uma causa. Deve ser o tal "se abrir para a vida" que você citou no texto que fala da jovem desiludida com o novo amor.
Deixe o sol entrar…
Meus dezoito anos já se foram, mas ainda há muito espaço para "deixar a vida entrar" como é sugerido. Obrigada por me lembrar disso”.
IV.
O texto a que ela se refere é o que escrevi nesta terça, 22 – “Deixe o Sol Entrar”. Curioso é que me inspirei num fato da vida real – o fim do primeiro amor – e o aparente tsunami que nos engole nessa hora. A proposta foi mostrar à jovem filha de outra amiga que todos passamos por momentos assim – e (ufa!) sobrevivemos. Basta ter coragem de se libertar de algumas amarras, enfim…
Terminei o texto assim:
“Não há melhor sensação de liberdade do que se abrir para o mundo. Na expectativa de viver um novo sonho de amor. Que, no caso da menina, sei bem, não demora nada a chegar”.
Quando escrevi essas duas linhas, porém, fiquei com vontade de acrescentar:
(…) “Que no caso da menina, sei bem, não demora nada a chegar. MAS É BEM-VINDO EM TODAS AS IDADES”.
Porque assim é que é e sempre será.
Mas, não tive coragem.
IV.
Daí que foi bom abrir aquele email. Descobri que minha mensagem, mesmo pela metade, chegou por inteiro por obra e graça, não deste escriba trapalhão, mas de leitores sensíveis como você, moça.
Por isso, não quero desperdiçar a chance de fazer esse reparo mais do que procedente. Sensação pra lá de boa. Também para mim o dia cinzento, como ressaltou você na mensagem, ganhou mais cor.
Também no blog o leitor tem sempre razão.
Se for uma certa leitora, então…