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Erasmo

Erasmão está de volta.

O novo CD reúne uma penca de convidados ilustres. Chico Buarque, Milton Nascimento, Os Cariocas, Zeca Pagodinho, Djavan, entre outros. Repete uma fórmula que o próprio Erasmo já usou com sucesso. Por isso, o trabalho se chama “Erasmo Carlos Convida – Volume II”. Em essência, uma retrospectiva dos hits que consagraram a dupla Erasmo/Roberto em mais de 40 anos de carreira. Não são as músicas mais conhecidas, mas é um repertório que vale a pena ouvir – e, no meu caso, é delicioso relembrar.

Compreenda-se.

Sou da geração Jovem Guarda. Quer dizer, não sei bem como funciona isso “de ser de tal e qual geração”. A verdade é que tinha por volta de 10 anos quando conheci esse tal de rock in roll. Antes disso, quem ouvia Elvis, Paul Anka, Bill Haley era a turma das minhas irmãs. O meu pessoal começou a se ligar em música com os Beatles, por volta de 62/63 – e a versão tupiniquim dos cabeludos ingleses passava por Roberto, Erasmo e Cia.

II.

Antes do sucesso que a TV ajudou a consolidar, Erasmo e Jerry Adriani fizeram uma apresentação no salão nobre do Colégio Nossa Senhora da Glória, onde eu estudava. Cada qual cantou duas ou três canções acompanhando-se ao violão. Desconfio que nem o próprio Erasmo é capaz de lembrar desse supershow em que cantou as incríveis “Terror dos Namorados”, “Pescaria” e “Parei na Contramão” – esta última tocava insistentemente nas rádios na voz de Roberto, então um jovem e promissor talento.

Não lembro se, naquela manhã, Erasmo cantou “Festa de Arromba”. Não lembro mesmo, mas sei que, depois deste primeiro e estrondoso sucesso, era inevitável. Bastava o homem aparecer, fosse onde fosse – da Jovem Guarda ao show do Troféu Roquete Pinto, passando pelo Especial do Dia 7 -, e era obrigatório. Todos pediam e…

Vejam só que festa de arromba
Outro dia eu fui parar…

Erasmo emplacou outros sucessos como “Gatinha Manhosa”, “Meu Bem, Meu Bem”, “O Caderninho”, “O Tremendão”, que lhe valeu o apelido e uma coleção de roupas, de grife própria. No entanto, por toda carreira, “Festa de Arromba” continuou sendo sua imbatível marca registrada.

III.

Nos anos 80 participei de duas entrevistas coletivas que ele concedeu. Bate-papos que, aliás, só me confirmaram a boa impressão que sempre tive do cara. Simplão de tudo, falante e sem ares de celebridade. Foi interessante ouvi-lo contar do dia em que soube que a Jovem Guarda acabou. O programa fez um baita sucesso por dois, três anos. Num belo domingo, crau. Ele chegou para se apresentar, como sempre fizera e, de chofre, ouviu a notícia que se confirmou, minutos depois, na voz do amigo Roberto Carlos.

— Bicho, nosso programa acabou.

O Tremendão disse que ficou sem chão naquele momento – os tais vinte segundos. Toda a sua vida girava em torno das apresentações semanais na TV Record: um roteiro de shows que saía da aparição na telinha e os discos, com divulgação assegurada.

E agora?

— Fiquei sem rumo, cara – ele me disse na primeira das entrevistas. Aliás, foi por ocasião do lançamento do disco “Erasmo Convida…”, o precursor do atual lançamento. Ficou lindo o dueto que fez com Nara Leão, em "Além do Horizonte".

IV.

Mas, voltemos ao fim dos anos 60.

Sem contrato com a Record, Erasmo se afastou da mídia por uns tempos. Voltou com o mega sucesso “Sentado a Beira do Caminho” (leia no blog: O Cochilo do Rei, 18/10/06). Mas, já não era o mesmo Tremendão. Suas composições ganharam um vértice social e, musicalmente, entabulou um proveitoso namoro com a MPB. Fez um disco antológico, raridade das raridades, de nome “Sonhos e Memórias”, em sintonia com as expectativas daquele fim de década.

Já quarentão, Erasmo viveu dois momentos extraordinários. O lançamento dos discos “Erasmo Convida…” e “Mulher”. Suas músicas tocaram tanto nas rádios que passou a ser o artista que mais arrecadou direitos autorais naquela época. Nem o parceiro Roberto (ausente de algumas das novas composições) lhe fazia frente.

Uma conquista – e tanto.

V.

Nos últimos anos, esse carioca da Tijuca, amigo de infância de Benjor e Tim Maia, tocou sua carreira sem a pretensão de alçar grandes vôos. Mas, com uma baita dignidade e novas parcerias. Marisa Monte, por exemplo. Mesmo pra lá dos sessenta, continua com jeitão de roqueiro e pique para enfrentar novos desafios.

O novo disco é prova disso. Agradável de se ouvir, com dois momentos belíssimos. Um ao lado de Chico Buarque, em “Olha”, que toca na novela das oito. O outro, delicadíssimo, ao lado de Marisa Monte, revivendo outra velha canção do Roberto: “Não Quero Ver Você Triste”.

Grande Erasmo. Vou esperar o DVD. Com toda a turma reunida. Vai ser uma festa de arromba, não acha?

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