Ouvi a história de um amigo. Repasso a vocês. Como não pedi autorização e não sei se o próprio gostaria de que a mesma se tornasse pública, não vou declinar o nome do santo. Mas, que todos saibam do milagre…
Ele é jornalista, professor, escritor e dono de uma produtora de conteúdo. Ou seja, tem mil e uma atividades. Trabalha de sol a sol, inclusive fins de semana. Os negócios vão bem, mas lhe sugam a alma.
Nesta semana, o amigo me veio com esta.
Olhem a idéia.
Do jeito que a vida anda competitiva, não há o que fazer. O grande barato é montar uma banquinha para vender canetas Bic pretas, num ponto movimentado de São Paulo. Mas, não um ponto qualquer. Algo que tenha um certo charme, outro tanto de história. O Viaduto do Chá, por exemplo.
Há que se entender a fina ironia ou mesmo o bem-humorado desalento do amigo. Cada vez mais topamos com a roda-viva dos compromissos profissionais – e nos deixamos levar. Sequer percebemos o quanto de qualidade de vida se perde em troca de uns trocos.
Pode parecer cascata. E alguém vai dizer que é “um chorar de barriga cheia”. Afinal todos querem se dar bem – e para isso trabalhamos, abrimos novas frentes, fazemos contatos ‘importantes’, criamos empresas. Produzimos, produzimos, produzimos…
Não vou tirar a razão deste atilado observador. Mas, cá para nós, e já que estamos a rodar na área corporativa, vamos usar um belo sinalizador do bom negócio: um tal de custo benefício. Alguém aí já se perguntou o quanto está usufruindo tudo o que conquistou?
Enfim…
Vamos deixar a profundidade de lado e atentar para o detalhe fundamental da proposta. Meu amigo quer vender caneta Bic preta – e só preta.
— Vem cá, amigo, mas se aparecer alguém que quiser caneta vermelha ou azul?
— Não tenho. Que procure outra banca. Só vendo canetas pretas.
Ele explicou as razões. Que na verdade é básica, essencial. Não quer complicar nada. A rotina é simples. Compra-se as canetas no atacadista. Monta-se a banquinha. E fica-se por ali apreciando o movimento, fazendo amizades, ouvindo uma musiquinha no ipod. Sem maiores aflições…
Deu o horário, recolhe-se os trens – e vamos que vamos. Sem maiores tormentos. E o principal: sem levar serviço para casa ou sacrificar um fim-de-semana.
Índice zero de angústias e aporrinhações.
Sei que é preciso coragem. Mas, tem a sua lógica.
Faz sentido.
Pensando bem. Poderia seguir o exemplo do amigo. Não estou a lhe roubar a idéia. Não causaria nenhum prejuízo. Eu ficaria na outra ponta do viaduto, em calçada oposta. Outra freguesia. Não haveria concorrência. Até porque eu venderia bics azuis. Sem problemas…