O Marques o chamava de A Víbora.
Zé Jofre perguntou se eu não o conhecia – e concluiu:
— Ensinam o quê na universidade?
Comecei a responder:
— Fundamentos Científicos da Comunicação…
Ouvi a risada do Nasci e percebi a ironia da pergunta.
Leila e Regina, mais jovens do que eu, ficaram silenciosas.
Desconfio que também não o conheciam.
Para variar, nosso chefe imediato, o AC, não estava – era o único que nos socorria nessas horas em que o conflito de gerações eclodia na primeira redação em que trabalhei.
Era divertido…
II.
Soube depois que, ao lado de Rubem Braga, ele foi correspondente na Segunda Grande Guerra a mando do chefe, Assis Chateaubriand. Mas, passei a conhece-lo melhor quando teve uma coluna no antigo Diário Popular.
Era um repórter contundente, demolidor. Por isso, Chatô lhe deu o apelido…
Há dois livros que reúne suas reportagens que recomendo aos alunos de jornalismo: A Feijoada Que Derrubou o Governo e A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista.
Há, porém, um terceiro que é o meu preferido. Encontrei o exemplar em um sebo e me encanto toda vez que releio os contos que o jornalista escreveu. Sensível às pequenas coisas do cotidiano, em nada lembra a Víbora das redações…
Chama-se Não Foi o Que Você Pediu?
Mas, há outros tantos. Sergipano de Lagarto, o homem chegou ao Rio em 1938 e desandou a escrever. Só no Santo Google são 699 mil referências à sua obra.
III.
Ano passado, uma estudante de jornalismo o entrevistou para a disciplina de Reportagens Especiais. Estava com a saúde debilitada, por isso não quis que a moça tivesse o trabalho de se deslocar até sua casa no Rio. Vai que justo na hora tivesse uma crise qualquer e não pudesse atende-la. Conversaram, então, por telefone e ele se emocionou quando viu o interesse de uma jovem pelo futuro da reportagem.
Ou melhor, da grande reportagem. Essa mesmo que os jornalões parecem ter cada vez mais interesse em que desapareça.
— Lugar de repórter é na rua, à caça de notícia. Que bom que você pensa assim – ensinou o velho jornalista, certamente um dos melhores nesses quase 200 anos de jornalismo no Brasil.
IV.
A estudante me contou que ele mal enxergava. Sua grande tristeza era não poder ler os jornais diários. No entanto, acompanhava tudo o que acontecia pelo rádio e pela TV. Não podia ver, mas ouvia atentamente.
Só ia dormir depois do último telejornal da madrugada. Mesmo assim a ruminar os assuntos para uma provável coluna que nunca mais escreveu…
V.
Foram assim os últimos dias do jornalista e escritor Joel Silveira, que morreu na quinta-feira, dia 16, aos 88 anos, em Copacabana, Rio de Janeiro…