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Entre Jambeiro e Caçapava

Alguma coisa acontece
em meu coração…

… Mas, só quando cruzo
aquele trecho da Rodovia dos Trabalhores,
onde tem uma placa que anuncia:

JAMBEIRO
CAÇAPAVA

Não sei explicar.

Fico assim, meio sem jeito.
Desconfortável dentro da roupa –
e olha que sempre viajo meio largadão,
camiseta folgada, calça de abrigo…

Sei lá.

A sensação que tenho
é a de quem perdeu algo e insiste
em continuar procurando.

E o caminho é aquele…

Mas, eu nunca vou por ali.
Meu destino é sempre outro.

Aí, vem um certo tremor,
um zumbido no ouvido, idéias
que barulham na cabeça…

É incontrolável a vontade de
experimentar, de ver no que dá,
de seguir o que a placa diz:

JAMBEIRO
CAÇAPAVA

Como disse, não sei explicar.

Por isso, sigo.

Meu destino é a estrada em linha reta…

É o que me diz a voz da razão,
com sotaque do amigo Carioca
que viaja comigo, de carona.

— Juizo, rapá, juizo…
O que foi foi. O que é é
O que será será…

Será?

Em todo caso, diminuo a marcha.
Aprecio os arredores. A sinuosidade
do pequeno atalho aonde me levaria?

Ao fim do arco-iris?
Às margens do Paraíba?
Ao sossego de uma casa no campo?
Ao pé das montanhas?
A um sonho que se perdeu?
À lida de plantar e colher com as próprias mãos?

Não sei, sempre pensei
nessas coisas sem pensar.

Sabe como?

Assim, como diz a canção:

“Uma idéia que existe na cabeça e não
tem a menor pretensão de acontecer.”

JAMBEIRO
CAÇAPAVA

— Juízo, rapá, juízo…

Me divirto com a preocupação
do amigo Carioca. Talvez imagine
que mude de idéia e desista
de passar o fim-de-semana prolongado
no Rio de Janeiro, onde mora.

Melhor esquecer a placa.
Melhor esquecer o atalho…

Só não vale esquecer o que
não sei explicar porque
não consigo esquecer…

Quem sabe na volta?
Quem sabe um dia?
Quem sabe…

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