Amanhã se anuncia um belo domingo à brasileira.
De sol e partidas decisivas do campeonato brasileiro.
Dou de barato que, no mínimo, os esportistas de cinco estados brasileiros – São Paulo, Rio Grande do Sul, Paranã, Goiás e Minas – estarão ligados nos resultados dos confrontos entre Grêmio e *aquele outro time, Palmeiras e Atlético Mineiro, Goiás e Inter, Cruzeiro e América de Natal, Vasco e Paraná – os demais jogos serão apenas para cumprir tabela.
Em sã consciência, ninguém imaginaria que chegaríamos a última rodada com tamanha dose de emoção – e olhe que o título nacional já está de posse do São Paulo há quatro ou cinco semanas.
Não seria exagero dizer que a rodada de amanhã vale mais do que uma final.
— É o jogo da nossa vida.
Foi a frase que mais li e ouvi da boca dos atletas envolvidos com as partidas em suas costumeiras entrevistas.
Aliás, um jogador do Cruzeiro, não lembro quem, inovou.
— É o jogo deste ano e do ano que vem.
Um raciocínio lógico. Se o time de Minas conseguir a vaga na Libertadores, muda tudo – inclusive em termos de grana – no calendário de 2008.
O raciocínio vale para todos.
Como vocês sabem, Palmeiras, Cruzeiro e Grêmio brigam pela Libertadores. Um deles fica com a vaga – torço para que seja o meu time, não vou declinar aqui o nome, pois quando escrevo sou Jornalismo Futebol Clube.
(Alguém aí acreditou? — todos os jornalistas esportivos têm o mesmo discurso, mas no fundo são fanáticos torcedores. Sempre acham um jeito de ‘entender’ melhor as coisas que acontecem no time do coração.)
*Aquele outro time, Goiás e Paraná tentam escapar do rebaixamento. Dois disputam a série B do ano que vem ao lado dos já ‘afundados’ Juventude e América.
Perdoem-me a indiscrição, caros leitores.
Não gosto de brincar com a desgraça alheia.
Porém, sou obrigado a reconhecer. É neste ponto que a última rodada do Brasileirão ganhou enorme dimensão. A luta de vida ou morte de um dos times mais populares do Brasil prende a atenção de todos – e vai mexer com os humores deste domingo e de todo o resto da semana que ora se inicia.
Há uma imensa torcida que se debulha em orações e expectativa. Os demais torcem contra — e como torcem!
Haja coração!
Óbvio que sabem de quem estou falando. *Aquele outro time, da Marginal s/n.
Na noite de quarta, cheguei em casa a tempo de ver as cenas finais da derrota para o Vasco em pleno templo sagrado do Pacaembu. Não lembro de ter visto sofrimento maior em uma arquibancada de estádio ao longo de 50 anos de vivência no futebol. Nem no Mundial de 82, quando o Brasil perdeu para a Itália, foi assim…
(É certo que eu e um amigo estávamos um pouco felizes demais. Apostamos na Itália só para ser do contra — e ganhamos o bolão do jornal em que trabalhávamos. Uma grana preta, ou melhor ‘azurra’.)
Mas, como ia dizendo…
As expressões dos torcedores, mostradas pelas câmeras de TV, eram de fragilizar a qualquer um. Havia até padre a desesperar-se entre os fanáticos, mais fiel a Fiel do que ao Criador. Que muito provavelmente só foi respeitosamente invocado quando um avante vascaino perdeu um gol certo ao chutar a bola em cima do goleiro Felipe.
Só mesmo uma pessoa insensível, divertir-se-ia diante de tanta dor, tanta angústia.
Não gosto sequer de dizer o nome dos adversários atávicos. Mas, vendo as imagens, pensei inclusive em torcer por uma reviravolta no placar. Para que todos aqueles respirassem aliviados — e hoje não estaríamos vivendo esse clima de apreensão que, aliás, contaminou às torcidas da cidade e do País.
Até o seo Manoel, da padaria, me deu um bom-dia mais sorridente neste sábado. Ao tradicional "Viva a Lusa", ele acrescentou o comentário:
— Eles vão ver o que é bom pra tosse na Segundona.
Explico que não cheguei a torcer pelo arquirival — embora seja um cara solidário na alegria e na tristeza — porque o jogo acabou antes.
Mas, que pensei pensei…
Tenho amigos que torcem para aquele outro time. O Zé Roberto, o José Reis, o Ângelo, a Bruna, o Thiago, o Matheus entre outros. Mesmo assim, gosto deles. São meus camaradas. Afinal, ninguém é perfeito, reconheço. E, caramba, são meus amigos.
Não posso ficar feliz com os amigos tristes ao meu redor.
Concordam?
Seria uma insensibilidade dizer que amanhã vou torcer por Palmeiras, Grêmio, Goiás e/ou Paraná vencerem seus jogos…
Uma insensibilidade muito grande.
Enorme. Grande mesmo…
Uma sentimento menor. Grotesco. Próprio a brutamontes insensíveis.
Acho que jamais faria isso.
Acho…
(…)
Eu sou um insensível…