III.
O desejo de Yasmin, Laila e Tainá, assim como o de todos na família, foi satisfeito na noite do dia seguinte, quando a família se reuniu na casa assobradada do tal avô numa rua tranqüila de São Paulo. Como fazia todos os anos, desde a morte do pai do avô e do tio jornalista, era ali que se encontravam para celebrar o Nascimento de Cristo. Só que, desta vez, estavam todos animados pela presença e rara do ilustre personagens e suas histórias mirabolantes.
A alegria parecia maior e ele não se fazia de rogado:
— Em Brugges, entrevistei uma linda feiticeira. Fiquei encantado ao primeiro olhar. Ela era tudo o que eu sempre quis para sempre…
Também não havia como não se encantar com aquela prosa, regada a vinho, doces lembranças que ele encadeava tão bem e ao aroma que escapava da cozinha, onde a ceia estava sendo preparada no maior capricho.
E assim os minutos voaram como sempre voam velozmente quando estamos felizes.
IV.
Chegou, então, a hora dos presentes – e houve algum constrangimento. Só então se deram conta de que, sob a árvore de Natal, nada havia para o viajante.
Ele, ao contrário, presenteou a todos com livros que eram coletâneas de seus melhores escritos. Uma forma de dividir com os irmãos, sobrinhos e amigos os passos que deu e fizeram o caminho do repórter mundo afora.
Em cada exemplar, uma dedicatória amorosa e personalíssima.
Alguns se espantaram com o que leram e perguntavam:
— Mesmo tão distante, como ele nos conhece tão bem?
Yasmim, Laila e Tainá foram as últimas a serem chamadas pelo tio-avô, que mais parecia irmão dos seus pais.
Para elas, não havia livros, não havia embrulhos.
Qual seria a surpresa?
V.
Num hábil gesto de magia, estalou os dedos e surgiu, rebrilhante, um bracelete de cristais miúdos que, mesmo à noite, parecia refletir a luz do sol. À claridade do dia, não seria de impossível aqueles prismas recendessem ao clarão do luar.
Todos embeveceram diante daquela visão.
Mas, uma pergunta ameaçou toldar aquele momento:
— A quem daria aquela preciosidade?
Eram três as garotas e apenas um o bracelete.
Chamou as meninas para junto dele.
Fingiu ascultar o coração acelerado de cada uma delas. Viu seu rosto refletido no olhar saltado das meninas. Sorriu e brincou com a dúvida que ora viviam:
Quem seria a escolhida?
E por quê?
Intimamente, desconfiavam não ser merecedoras de tamanho mimo.
Os pais também se mostraram apreensivos. Fosse quem fosse a eleita, a harmonia daquele momento estaria severamente comprometida. Uma se julgaria melhor por receber algo assim tão valioso. As preteridas, por certo, ficariam tão decepcionadas que entristeceriam o Natal.
Temeram pela decisão do irmão…
* Amanhã saberemos.