Querer, querer, eu não queria. Mas, vou retomar a história de ontem para que vocês não confundam meus textos com aqueles filmes franceses, sem pé nem cabeça, que terminam quando a gente imagina que a história vai engrenar.
É uma rápida panorâmica do que aconteceu após Dogival contar para o Nasci – e para o mundo – que torrou uma grana preta no cartão de crédito do nosso amigo e Mestre dos Mestres…
— Para os amigos tudo…
Lembram? Era este o nosso lema – e continuou sendo.
O Nasci não xingou, nem esperneou. Foi breve no se veredicto.
— Não vou por um p… do meu bolso para liquidar esta fatura. Tratem de se cotizarem para saldar a Noite de Cinderela do nosso amigo Dogiva. A ‘escandalosa’ vence dia 10. Virem-se… Para os amigos tudo, inclusive a fatura.
Isto posto, bateu o cachimbo na quina do balcão para limpá-lo e pediu mais uma rodada de cerveja para turma toda.
Foi o que aconteceu.
Nas semanas seguintes, foi um impressionante circular de rifas – daquelas em que o incauto tem de escolher um nome para ver se é o que está escondido no alto da cartela – valendo todo tipo de tranqueira que tínhamos em casa. De rádio-relógio usado a cordão de ouro que deixava o pescoço do fulano verde.
Do nosso assédio não escapou nem o sogro do Dogival que um dia apareceu no boteco para saber notícias do genro.
— Ele anda se perfumando todo, ri à toa e deu de comprar roupa nova todo dia. O que está acontecendo com ele?
Deduzimos que o romance continuava, mas o amigo se fechara em copas – e nada nos contara.
Relevamos.
Vida que segue.
Apuramos o que pudemos em grana e passamos ao Nasci, que se fez de indiferente.
— O que faltar eu completo, rapaziada.
E explicou o motivo:
— Se estivesse no lugar dele, faria o que ele fez. É compreensível. Agora, se vocês estivessem no meu lugar, certamente fariam o que eu fiz.
Mais corporativo que isso, impossível. Mas, sincero…
[Texto publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]