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Blues do Djavan

Outra da série Brasilsilsil.
Mas, dei um capricho no final…

I.

Comprei o modelo V-3 de celular assim que foi lançado – uns dois anos atrás, pouco mais, pouco menos. Bem que o meu filho avisou para trocar o antigo patacão que eu usava por um aparelho mais modesto, sem tantos luxos e parangolés.

Como sou um pai rebelde, não ouvi o bom conselho do filho – e fiz a bobagem.

Efetuei a compra na loja da Vivo, do Shopping Metrópole, em São Bernardo. Faltava só fechar a questão do seguro do aparelho quando fui avisado pelo atendente que “o sistema (olha ele aqui de novo) havia caído”. Se eu quisesse, poderia contratar esse serviço de casa mesmo, via telefone.

Foi o que fiz…

Não ia ficar por ali de bobeira.

II.

Dei bobeira vinte cinco dias depois.

Fui assaltado nas imediações do Colégio Arquidiocesano, na Vila Mariana.

Tipo oito e tanto da noite, o celular tocou e eu atendi, sem pensar nos riscos.

Segundos depois, reluz à minha frente o cano de um revólver. O maluco-não-tão-beleza fica grunhindo umas bobagens das quais só depreendo a última frase.

— Passa o celular!

Não deixei o Fulano falar duas vezes.

Dei o tal V-3 para o facínora que projetou-se na escuridão da noite em desabalada carreira.

Não sem antes soltar outra série de impropérios.

Vão-se os anéis, ficam os dedos. Melhor assim…

Vida que segue.

III.

Fui a delegacia, fiz a ocorrência. Liguei para a Vivo, pedi para que bloqueasse a linha e falei do seguro. De pronto, o moço do outro lado do fone orientou-me educadamente a entrar em contato com a Mafre, a companhia que cobriria o meu prejuízo.

E que prejuízo! Um pau e cacetada…

IV.

Uma surpresinha, das mais singelas, me aguardava – e desestabilizaria os próximos 60 dias.

Adivinhem?

Se eu tivesse feito o seguro na loja, não havia carência para qualquer sinistro. Mas, no momento em que saí do estabelecimento sem fechar a apólice – o que fiz como disse do telefone de casa –, impôs-se um prazo de 30 dias de carência.

Portanto, nada me deviam.

Voltei a falar com a Vivo depois daquele célebre roteiro: “um passa para o outro que passa para o outro que devolve para o um que manda ligar no dia seguinte”. Pior ainda quando era quando prometiam “retornar a ligação”.

Eram ligações diárias para a Vivo “porque sou jornalista e uso o celular pra caramba”.

Vocês entendem a minha situação, perguntava ingenuamente.

V.

No começo, ficaram de me enviar um aparelho de menor valor – na faixa de 700 reais – em quinze dias.

Topei.

Mas, o aparelho não veio.

Fiquei exasperado. Um mês depois – e nada.

Só enrolação. Prometeram um modelo mais chinfrim ainda.

Mesmo assim, nada.

Briguei com o atendente.

Gritei.

Esperneei.

Quis entrar fio adentro para por um fim àquela tortura.

— Então cancela a minha conta.

VI.

Cancelaram.

Dias depois mandaram a fatura de duzentos e tantos quequérecos por quebra de contrato. Havia comprado o celular há menos de um mês e não tinha direito de
a tal iniciativa.

Sem falar que, como minha conta estava no débito automático, houve todo um trâmite no banco para sustar o pagamento.

VII.

Uma manhã de domingo abro o jornalão e vejo lá um anúncio da concorrente italiana.

CELULAR A UM REAL

Não pensei duas vezes. Tim-tim. Fechei negócio.

Não tira foto, não filma, não tem recurso quase nenhum.

Não é lá essas coisas em termos de design, mas funciona.

Faz e recebe ligações – e só.

Também não preciso mais do que isso.

VIII.

Para ser franco, às vezes penso que nem de celular preciso.

Inclusive, chego a torcer para esquecê-lo em algum canto.

Ando numa fase em que só me ligam para cobrar isso ou aquilo ou para lembrar compromissos que quero esquecer. Há ainda aquela mocinha do serviço de telemarketing que quer me empurrar um cartão de crédito:

— O senhor foi contemplado com o novo cartão…

IX.

Ai, ai, ai.

Nessas horas, penso seriamente em abrir mão da modernidade do celular.

Confesso. Fico prestes a me decidir.

Mas, aí o bichinho estrila.

Toca aquele velho blues do Djavan.

E eu, esperançoso, corro para atender.
(Mesmo sabendo que não é você.)

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