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Cores e nomes

Continuamos hoje com a série Longe de Casa…

Ainda pelos becos e bocas de La Boca, fechamos questão – eu e os argentinos – que não mais falaríamos de Pelé, Maradona, Ademir da Guia, Riquelme ou qualquer outro jogador de futebol. Não chegaríamos nunca a um denominador comum.

— Condordam?

Meus novos amigos balançaram a cabeça afirmativamente.

— Querem falar do quê? Música?

Que bobagem. Tango versus samba. Seria inevitável uma nova polêmica.

— Melhor, não…

Além do futebol, que outro assunto poderia interessar a um bando de homens num Café, metido à besta, com cadeiras e mesas na calçada, em pleno Caminito?

— Mulher, óbvio.

Todos concordaram.

Enfim, um denominador comum, saudei.

Entre brasileiras e argentinas, vence a que estiver mais perto.

Mesmoa assim achei melhor encerrar o assunto. Poderia passar por ali a irmã de algum deles – e aí, sim, a guerra estaria declarada a partir de um brevíssimo comentário.

— Vou lhes contar uma história, desbaratinei. — Torço para um time que foi obrigado a mudar de nome por causa da Segunda Grande Guerra.

Ficaram curiosos.

Aí, eu lhes disse que o Palmeiras foi fundado com o nome de Società Palestra Itália. Mas, nos anos 40, os italianos e descendentes viveram momentos de constrangimentos no Brasil porque a Itália fazia parte do eixo nazi-fascista. Para evitar maiores transtornos, alguns clubes — com notórias ligações a Alemanha e Itália — foram rebatizados.

Assim, a gloriosa denominação, Palmeiras, estreou num clássico contra o São Paulo em 1942 e venceu por 3×1. O time entrou em campo carregando a bandeira brasileira e tendo a frente um coronel do Exército brasileiro. Foi um jogo confuso com os jogadores do são Paulo abandonando o campo aos 19 minutos do segundo tempo.

O Palmeiras foi campeão paulista naquele ano.

Depois de um breve silêncio solidário, foi a vez de um dos argentinos falar.

— Nosso time não mudou de nome. Mas, sim, de cores.

Fiz cara de quem nada entendeu. O orador da turma prosseguiu com a desenvoltura de uma guia de excursão.

— Existiam dois clubes em Buenos Aires com as cores alvinegra. O Boca e outro lá (que eu imagino seja o Velez). Por ocasião dos encontros entre as equipes sempre havia uma grande confusão para saber quem jogaria com o segundo uniforme.

Dá mesmo para imaginar a confusão. Não havia o marketing esportivo e os clubes, quando muito, tinham apenas um jogo de camisa. Basta lembrar que a camisa azul da seleção brasileira de 1958 foi comprada às pressas numa loja qualquer da Suécia porque nossos anfitriões usavam jaquetas amarelas como as nossas.

Ou seja, o treco era complicado mesmo.

Para acabar com essa discussão, os dois clubes acertaram fazer um jogo valendo as cores alvinegras. Quem vencesse permaneceria com o uniforme original. Ao perdedor, caberia buscar novas cores ou se atirar no rio da Prata.

Deu Velez: 2×1.

Os seguidores do Boca buscaram no rio a solução para a nova camisa. Acertaram que as cores seriam as mesmas da bandeira do primeiro navio que entrasse no porto.

Eis que, momentos depois, chega o primeiro navio com as cores da Suécia.

E o azul e amarelo passou a compor um dos mais tradicionais mantos do Planeta Bola.

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