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Jornalistas e afins

Ainda a discussão do papel da Imprensa nos dias atuais e dos tênues limites do exercício da profissão e de algo muito próximo ao jornalismo, mas que não é jornalismo propriamente dito. Especialmente no veículo televisão, esses contornos parecem se diluírem a cada nova manhã. Tanto que está difícil distinguir o jornalismo do que é entretenimento, do que é espetáculo, do que é reality show.

Por acaso vocês sabem que há uma penca de jornalistas a roteirizar a cenas do BBB? Pois é. É a partir deles que o dia-a-dia da casa ganha vida, se é que assim podemos chamar, em breves historinhas, roteirizadas e exibidas no horário nobre. Não preciso dizer, mas digo, que um dos melhores profissionais do jornalismo televisivo, Pedro Bial, comanda o programa e participa decisivamente da produção do campeão de audiência.

Não vai aqui nenhuma crítica contumaz. Mas, uma proposta de reflexão sobre o nosso trabalho. Sei que a maioria dos meus cinco ou seis ou sete leitores é formada por estudantes de jornalismo, jornalistas e afins.

Um desses – e pode ser você mesmo, por que não? – me dirá se não estou sendo rigoroso demais com o telejornalismo e a poupar outros veículos? Concordo em parte. Não que outros veículos – como o impresso, o rádio e a grande incógnita do on line – sejam exemplos de independência, senso crítico e ética. Há erros e equívocos, muitas vezes, absurdos. Só estou citando a TV porque, sabe-se, que este veículo influencia decisivamente mais de 90 por cento da opinião pública.

Ou seja, uma responsabilidade e tanto para os profissionais de Imprensa.

Um bom exemplo é o Fantástico, o carro-chefe da Rede Globo nas noites de domingo há nada menos que 35 anos. Anunciado como “o show da vida” nos primeiros tempos, hoje tem como slogan ser “uma revista eletrônica” que mescla entrevistas, reportagens, entretenimento, esportes e orientação e serviços. À exceção dos quadros de dramaturgia, os jornalistas pontuam em todos os outros, inclusive na apresentação do programa. Eram Bial e Glória Maria; agora são Zeca Camargo e Patrícia Poeta – todos com origem no Departamento de Jornalismo.

Nas últimas semanas, o programa bateu recordes de audiência a partir de entrevistas de cunho jornalístico, mas com cuidados cênicos e roteirizadas para um forte apelo emocional. O casal Nardoni foi cuidadosamente interrogado pelo repórter Valmir Salaro. O jogador Ronaldo, em sua casa em Parati, falou com a jornalista Patrícia Poeta em tom de desculpa à sociedade. Também à jornalista falou Ana Carolina, a mãe de Isabella, na noite do domingo Dia das Mães – e este encontro bateu todos os recordes de audiência e a gente já falou dele em post anterior.

Os três entrevistados – na verdade, quatro – só falaram o que lhes interessava e deram a entender que, antes de toparem a exclusividade ao Fantástico, houve um acordo sobre quais questões poderiam ser abordadas e quais assuntos estavam vetados.

Essa foi a impressão que ficou.

Vou deixá-los com duas provocações.

01. Daria para ser diferente a condução das reportagens?

02. Foram entrevistas jornalísticas?

Não tenho convicção sobre as respostas. Não sei se há respostas. Mas, vale a pena pensar no assunto. Até porque, cada dia mais, o jornalismo fica parecido com aquelas mulheres imprevisíveis (e qual não é). Que muda e esquece de nos avisar…

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