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Nada

Em verdade em verdade vos digo…

A quem interessar possa…

Declaro para os devidos fins…

Senhoras e senhores…

Venho à presença de V.Sa…

É para mim uma honra…

Caríssimos leitores…

II.

Era uma vez…

… um cronista sem assunto

… em um dia que não era dia normal

… mas também não era feriado.

III.

Um dia de sol e preguicento

… que virou noite clara,

… lua cheia

… linda de se ver

… mas ruim para se escrever

… tamanho encanto que exercia

… sobre o tal que a olhava, olhava…

IV.

E o cronista, tadinho,

… ali, se deixou ficar

… na janela do apartamento,

… entre as luzes da cidade

… e a trajetória da lua no céu de maio

… que nunca é lá grande coisa,

… mas, naquela noite resplandecia.

V.

Esperava a inspiração,

… um assunto qualquer que fosse

… para começar a teclar

… o post/crônica do dia

… que se fez noite de lua cheia.

VI.

Ah! Mas já não se fazem

… noites enluaradas

… como antigamente e assim

… o desamparado tentou começar uma vez…

EM VERDADE EM VERDADE VOS DIGO

… tentou duas:

A QUEM INTERESSAR POSSA

… três:

DECLARO PARA O DEVIDOS FINS

… quatro:

SENHORAS E SENHORES

… cinco:

VENHO À PRESENÇA DE V.SA.

… seis:

É PARA MIM UMA HONRA

… ia tentar a sétima

… e desistiu.

VII.

Caríssimos leitores,

era uma vez um cronista sem assunto

… que ainda está a olhar a janela

… à espera de inspiração

… para a crônica de amanhã,

… porque a de hoje já se foi.

VIII.

E ele se sentiu…

… um imenso nada,

… pois, em verdade em verdade

… vos digo, reconheceu

… ainda que tardiamente:

… o luar é o mesmo.

IX.

O que já não se faz são…

… cronistas como antigamente.

Mesmo assim, ele prometeu…

… vai continuar tentando.

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