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Jamelão

Nos tempos em que andei pela reportagem sobre música popular brasileira, não tive a oportunidade de entrevistar Jamelão, o sambista notável e notório que morreu neste sábado (14), aos 95 anos. Escrevi – falando bem, óbvio – sobre o disco que lançou por uma pequena gravadora de São Paulo nos idos dos anos 70. Estou em dúvida se foi pela Chantecler ou pela Continental, mas pode ter sido pela Copacabana.

Enfim…

A indústria fonográfica vivia um momento mágico no Brasil. Estávamos entre os quatros maiores mercados do Planeta e o samba, como gênero musical, era um fenômeno de vendas. Consagrara-se, logo no início da década, com Paulinho da Viola (“Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida”) e viveu as ‘explosões’ de Clara Nunes, Beth Carvalho e Alcione. Martinho da Vila era outro que emplacava sucesso atrás de sucesso. Havia, portanto, um espaço legal para que um sambista ‘das antigas’ retomasse o lugar que lhe era devido junto ao grande público.

Avesso às entrevistas, Jamelão não mostrou vontade para ‘caitituar’ o novo disco, prática comum à época. Veio a São Paulo a pedido da gravadora que não lembro qual é, como disse lá em cima. Mas, se limitou a apresentações em casas noturnas, ali, pelas cercanias do bairro de Santa Cecília, zona da boemia paulistana. Ali, cantou antigos sambas dolentes – às favas, o novo repertório – e reviu amigos como Lúcio Cardim, autor de dois de seus maiores sucessos – “Matriz e Filial” e “Ela Disse-me Assim”, que todos imaginam ser, pelo estilo, do gaúcho Lupiscínio Rodrigues.

Jamelão em nada lembrava o “puxador” da Mangueira ou alguém cuja a voz dava o tom da alegria e do delírio do chamado “maior espetáculo da Terra”, o carnaval do Rio de Janeiro. Parecia um homem caladão, circunspecto mesmo, a conviver com fantasmas e segredos. Diria até um tanto desajustado aos novos tempos midiáticos; assim como o amor, o amor dilacerado das canções que tão bem interpretou, quando quis, do jeito que quis e com raro talento.

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