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O eremita

Blogar é contar histórias.

Mas, há dias que elas (as histórias) nos escapam, feito água, pelos vãos dos dedos. Não que falte assunto ao blogueiro à deriva. Basta acessar qualquer site e/ou jornal e sobram temas a lhe inspirar belas narrativas.

Aí, confesso-lhes, por vezes, falta a ‘vontade política’ para abordar tal e qual tema e transformá-lo num bom post. Ou em linhas minimamente interessantes. Acontece que, nessas horas, o blogueiro, que é de natureza um voyeur, fica a transitar entre este e aquele motivo, esta e aquela circunstância, este e aquele personagem. Sem se fixar e se estender em nenhum deles.

Resultado:

Nesse ir-e-vir acabamos presas fáceis da dispersão.

Dispersos, não há texto que vingue…

Querem um exemplo?

A conversa que tive na tarde de segunda, com uma estudante logo após a aula. Falávamos da disciplina História do Jornalismo Brasileiro e da profissão que abracei há lá se vão 34 anos e ela dá seus primeiros e promissores passos como estagiária de uma produtora de TV. De repente, ela me diz que gostaria de escrever sobre a espontaneidade e a vocação para ser feliz dos brasileiros mais humildes.

— Um bom tema para o trabalho de conclusão de curso, eu lhe disse.

— Gostaria de fazer um documentário de TV, respondeu.

Também lhe falei que este fenômeno acontece com moradores das pequenas cidades interioranas.

— Antes mesmo que se faça noite, o pessoal já está cuidando de se divertir e, para isso, vale tanto o futebolzinho de fim de tarde, a conversa com os amigos ou, em tempos mais quentes, um mergulho no ribeirão.

Ela sorriu e acrescentou:

— O melhor de tudo é que eles não levam serviço para casa.

Que deliciosa verdade! Nem se angustiam, nem se cobram por isso. Ficamos alguns instantes em silêncio. Admirados, a degustar as próprias palavras e constatação. Não sei o que ela pensou. Confesso que, por instantes, eu me vi como um sábio eremita, senhor do meu tempo e da minha vontade…

Então, retomamos a conversa. Mas, cuidamos de mudar o assunto.

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