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Mulher à Janela

Não sei escrever sobre arte – aliás, por vezes mesmo desconfio se sei escrever. Mas, como meu ofício e equívoco tem sido ganhar a vida a enfileirar uma letrinha após a outra, após a outra, após a outra, melhor é não entrar no mérito desta questão.

Recomecemos do princípio, pois.

Como escrevi antes, não sei escrever sobre arte – mas, tenho uma amiga que é repórter do Jornal da USP que é especialista no assunto. Faz lindas reportagens e já escreveu dois ou três livros sobre o assunto. Tenho-os em casa e, ao que me consta, por esses dias, mais outro deve estar chegando às prateleiras das boas casas do ramo.

Um assunto leva a outro e a outro – e assim não chego a lugar nenhum.

Vou tentar de novo.

Não sei escrever sobre arte – a bem da verdade, nada entendo do assunto. Que me recorde, só comprei um quadro em minha vida. Esqueci o nome do autor, retrata uma caravana de tuaregues no deserto. Vi ali um quê de mistério. Desconfio que me levou à infância quando me imaginava um desses nômades e trazia uma adaga a tira colo. Não me imaginava mocinho ou bandido, apenas um aventureiro.

Talvez houvesse uma princesa de olhos de jade nessa história. Talvez…

Não sei escrever sobre arte – mas num desses dias fiz uma crônica sobre esse quadro. Se quiser ler, a data é 04.04.08.

Não sei escrever sobre arte – por isso, como vou descrever a obra Mulher à Janela, de Salvador Dali, que é o motivo deste post? Fiquei passado quando a vi, ainda no início do ano, exposta no Museu Reina Sofia em Madri. Desde então venho adiando o dia de escrever sobre a tela. Hoje, resolvi topar o desafio e, como puderam perceber, estou sem coragem.

Enfim…

Surpreendeu-me a simplicidade da cena, tão densa quanto real. Faz contraponto às esquisitices que sempre se imagina ao ouvir o nome de Salvador Dali. Li que a tela pertence à primeira fase do artista catalão (1904/1989), quando ainda estava envolvido com o naturalismo. Mas, já trazia em si o prenúncio do fantástico e do lúdico que marcariam suas obras posteriores.

Que estou a comentar!

Não sei escrever sobre arte – por isso é melhor não me estender.

Direi apenas que a moça, para mim, se faz tão enigmática quanto a Mona Lisa, do Louvre. Com a diferença que, de repente, estamos do lado de cá da janela, tão próximos e tão alheios; como ela, atemporal e cúmplices de um eterno esperar…

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