A Imprensa brasileira completa 200 anos de existência e, num ano repleto de festividades, ouço de tudo; quase nada sobre o tema.
Já li e ouvi sobre: 50 anos da bossa nova. nos 50 anos da conquista da Copa de 58, nos 100 anos da morte de Machado de Assis 100 anos do nascimento de Guimarães Rosa. 40 anos das manifestações de maio de 68. 200 anos da chegada da Família Real ao Brasil. Aliás, foi quando surgiram a Imprensa Régia e o primeiro jornal “Gazeta do Rio de Janeiro”.
Dizem que jornalista gosta de falar de todo mundo, menos dele mesmo e dos seus pares. Talvez explique o silêncio. Talvez os próprios profissionais considerem que não são notícia 200 anos de notícias.
Vá entender.
Bem, o jornalismo sempre teve lá suas estranhezas.
Querem ver?
Há quem afirme que o nome do escritor Lima Barreto ainda hoje é proibido de ser citado no Jornal do Brasil. Em 1909, Barreto lançou o livro “Memórias do Escrivão Isaías de Caminha” inspirado no dia-a-dia do jornal carioca, fundado em 1891. A família Pereira Carneiro não gostou das referências, mesmo com o autor não citando diretamente o nome do JB e dos envolvidos nos, digamos, escândalos.
Querem outra?
O jornal O Estado de S. Paulo sempre foi contundente em suas críticas a um dos principais políticos da época, o doutro Adhemar de Barros. À época da ditadura Vargas – que inclusive desapropriou o jornal –, Adhemar foi nomeado interventor do Estado de São Paulo. Os Mesquitas não o perdoaram. Na década de 50, mesmo eleito prefeito e depois governador pelo voto direto, sempre que se referia ao seus atos o jornal grafava apenas as iniciais: “o senhor A.de B. esteve ontem…”
Outra ainda dos anos 50.
Quem me contou foi o próprio jornalista, Tonico Marques; meu primeiro editor em meados dos anos 70.
Naquela época, Marques era repórter-setorista de um dos jornais diários de Sampa. Cobria os atos e fatos da Assembléia Legislativa. Um dos mais combativos parlamentares era uma mulher, boa de briga e de oratória: a deputada Maria Conceição da Costa Neves. Numa de seus discursos, na empolgação da tribuna, ela exagerou ao criticar um fato qualquer que ocorrera no dia anterior. Entusiasmou-se e sacramentou:
— Desde que Cabral aportou no Brasil nunca vi tamanho absurdo…
A partir daí, sempre que Marques escrevia sobre ela, não esquecia o detalhe:
“A deputada Maria Conceição da Costa Neves visitou ontem o Museu do Ipiranga. A deputada, que viu Pedro Álvares Cabral desembarcar no Brasil…
A mulher ficava uma fera – e com alguma razão.