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Histórias da Imprensa (2)

“Diferentemente do que publicamos ontem
na primeira página deste jornal, Jesus Cristo
não morreu enforcado, e sim crucificado…”

Faz algum tempo, é bem verdade. Mas, a retificação, pelos rigores do Manual de Redação do prestigioso jornal paulistano, precisou ser feita na seção pertinente, realçando ainda mais o erro crasso que cometeu um de seus promissores repórteres.

Errar é humano. Imagina-se que jornalistas sejam da espécie humana. Portanto, jornalistas erram – mas, nem todos reconhecem ou admitem a falha.

Por isso, não vamos “enforcá-lo” – ou melhor, “crucificá-lo” por isso.

Tanto que, agora em outro diário, o moço ocupa cargo de chefia e tudo mais.

No entanto, nas rodas de jornalistas, sempre que se fala do tal, alguém sempre acrescenta:

— Fulano, aquele que enforcou Jesus Cristo na primeira página do jornal tal…

Ontem, disse que os jornalistas têm lá suas estranhezas. Hoje, eu acrescento que, por vezes, temos um humor ferino, próprio aos que se imaginam infalíveis.

Óbvio que também já cometi meus erros (toc, toc, toc, melhor bater na madeira) – e não foram poucos.

Certa vez, fui chamado para editar um jornal de bairro que circulava na Vila Mariana. Vivia numa correria danada atrás do vil metal. Trabalhava na Gazeta do Ipiranga e fazia frilas em mil lugares. Este seria um a mais – aceitei logo.

À tarde entrevistei o cantor/compositor Alceu Valença para uma revista Expressão Musical, nome horrível. Mas, valeu o papo com o pernambucano. Ele me falou maravilhas sobre o “rei” da embolada, Manequinho Araújo. Lembrava do Manequinho de meus tempos de criança, com seu jeito engraçado de cantar rápido como convém ao gênero tipicamente nordestino. Fiquei encantado.

Da entrevista fui direto para a Redação do tal jornal. Chamava-se A Cidade de São Paulo – O Jornal. Cheguei, tomei um café e as matérias da primeira página já me esperavam para ser diagramadas.

O texto mais interessante – e que manchetaria a edição – era as reformas que estavam sendo feitas no Viveiro Manequinho López, que cuida ainda hoje das plantas e flores do Parque Ibirapuera e de boa parte da cidade. Era setembro e a edição tinha uma matéria especial sobre a chegada da primavera.

Não tive dúvidas, tasquei em letras garrafais.

PRIMAVERA. BOM MOTIVO
PARA VISITAR O VIVEIRO
MANEQUINHO ARAÚJO

Foi assim que o jornal foi para a rua – e eu também…

Me demiti – e nem apareci para receber a grana que na fiz por merecer.

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