Deixei por terminar o post de sábado.
Tentarei fazê-lo agora, nas linhas que seguem.
Devo lhes uma explicação.
Antes de inicia-lo, ontem, projetei encerrá-lo com outro verso, do mesmo e magnífico samba de Nogueira:
“E o meu medo maior
É o espelho se quebrar.”
Verso, aliás, que me intriga desde a primeira audição, nos idos dos 70.
Tento compreende-lo em sua grandeza e verdade.
II.
O homem em frente ao espelho. Diante da própria imagem, vê além dele, enxerga o pai e a história dos que lhe antecederam.
É inevitável.
Há um momento na vida que temos esse enfrentamento. Talvez a partir dos quarenta e tantos; pouco antes, pouco depois. Desconfio que aconteça quando começamos a passar para o outro lado do espelho e ponderamos sobre o que deixaremos aos que estão pela aí, aos que estão por vir.
III.
Retomo, então, a origem do post/crônica de ontem.
Exemplos como os de Fernando Barbosa Lima e Fausto Wolf foram (e são) referências de dignidade e luta por uma sociedade mais justa, democrata e igualitária.
Não sei se nós, de uma leva de jornalistas e cidadãos que os sucederam, estamos à altura do legado.
Vivemos outros tempos, alguém dirá. Não há um inimigo declarado, como a ditadura militar. Mas, que os há os há, meus caros. E temo que sempre haverá…
IV.
Preocupa-me o distanciamento e a indiferença das novas gerações – jornalistas ou não – em relação a certos valores básicos e vitais a qualquer proposta de contemporaneidade.
Preocupa-me o individualismo exacerbado, o “tirar proveito de tudo e de todos”, a permissividade, o imediatismo, a perda de paradigmas legítimos – as tais referências, os tais modelos de vida…
Sem olhar para o passado, embarcamos às cegas rumo ao futuro…
* NOTA DO AUOR
Que o brilhante José Saramago perdoe o abuso do blogueiro pela utilização indevida — mas, cabível — do título de uma de suas relevantes obras para manchetar este post desabafo.