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57 não são 60

A Carol comemora hoje seus quinze anos.

A Carol é minha sobrinha-neta.

Isto mesmo.

Sobrinha neta.

Aliás, tenho vários sobrinhos-netos.

Uma abençoada escadinha que parte da Stephanye, de 17 e, por enquanto, pára no Hilya, de três para quatro anos e mora em Vitória, Espírito Santo.

Mas não é sobre o aniversário da Carol e da minha penca de sobrinhos-netos que quero hoje lhes falar. A bem da verdade foi só o mote para contar a história que ontem vivi e achei engraçada e reveladora.

II.

Para receber uns caraminguás a que tenho direito – e que me valeram o suor de 35 anos de trabalho e estavam perdidos num fundo sem fundo – precisei ir a uma agência da Caixa Econômica aqui, no Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo. Não sou cliente do banco, por isso me informei com a atendente sobre como proceder. Ela, solícita, me orientou que fosse direto ao balcão dos caixas e apontou a fila dos idosos. Agradeci a informação. Mas, fiz que não entendi o gesto da moça. Não acho justo. Afinal, 57 não são 60…

Uma pilastra de cimento dividia as duas filas. Deve ser uma coluna de sustentação do andar superior. Vai do chão ao teto e tem aproximadamente 80 centímetros de diâmetro. Uma tora. Do lado direito, estavam “os da melhor idade”, em fila única. À esquerda, fazendo aqueles caracóis sem fim, aglomeravam-se “os sub 60”.

Foi nessa que humildemente me perfilei.

III.

Dois caixas atendiam aos de cá. E apenas um o de lá.

Assim, passo a passo, pacientemente, fui avançando. Até que chegar próximo à pilastra. Seria o segundo a ser atendido. Aliás, até agradeci à boa hora em que cheguei à agência, uns quinze minutos atrás, pois a encontrei relativamente vazia. Agora, pude perceber, o movimento era intenso. Tanto a minha fila como a dos ‘velhinhos’ estavam grandes. Na proporção de três por um, entre os de cá e os do lado de lá da coluna.

Coluna onde, aliás, me apoiei descaradamente. Pois, como sempre nessas horas, o homem que atendia a um dos nossos ‘caixas’ desapareceu, a propósito sei lá do que, em meio ao corredor de paredes que havia logo atrás de uns banners publicitários, paradisíacos, do próprio banco.

IV.

Não reclamei porque não sou de reclamar.

De que valem uns minutos a mais ou a menos. Há coisas mais importantes na vida.

Estava no lusco-fusco desses pensamentos quando intuo que algo de errado está acontecendo logo às minhas costas e justo no momento em passo a ser o primeiro da fila.

V.

Não foi tão grave assim.

O rapaz que me sucedia argumentava comum grupo de idosos. Tentava explicar que a fila de atendimento especial era a outra e não aquela que os tais formaram atrás de mim, inspirados pela brancura dos meus ralos cabelos e pela literal draga em que me encontro.

VI.

Ri de toda aquela confusão. Até porque nada, nem ninguém me tiraria a primazia do atendimento. Mas, o senhor insistia com o rapaz:

– Se ele pode porque eu não posso?

VII.

Enfim, como disse a vocês, 57 não são 60.

Por isso, fiquei até embevecido quando, ao sair da agência, pude ouvir a conversa e o comentário de duas bancárias:

– Tudo culpa daquele setentão charmoso.

Desconfiei que era comigo, mas deixei pra lá…

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