* Trecho do livro O Mago, biografia de Paulo Coelho,
admiravelmente escrita pelo jornalista
e escritor Fernando Morais:
Como o orçamento era insuficiente para contratar mesmo que fosse um único colaborador, era ele quem acabava escrevendo quase todo o conteúdo das duas publicações (com títulos de Pomba e 2001). Para que leitor não percebesse o pauperismo que vivia a redação, recorria a vários pseudônimos, além do próprio nome. Aí, no começo de 1972, um estranho apareceu na redação – na verdade, uma modesta sala no décimo andar de um edifício comercial do centro do Rio de Janeiro. Usava um terno lustroso, desses que nunca amarrotam, gravata fina e pasta de executivo na mão – e anunciou que queria falar com “o redator Augusto Figueiredo”. Na hora Paulo não associou o visitante a alguém que lhe telefonara dias antes, perguntando pelo mesmo Augusto Figueiredo. Foi o suficiente para despertar paranóias adormecidas. O sujeito tinha toda a pinta de policial, devia estar ali por causa de alguma denúncia – drogas? – e o problema é que Augusto Figueiredo não existia, era um dos nomes que usava para assinar matérias. Apavorado, mas tentando despachar naturalidade tentou despachar o intruso o mais depressa possível:
– O Augusto não está. Quer deixar recado?
– Não. É só com ele mesmo. Posso sentar e espera-lo?
Confirmado, o homem era mesmo um tira. Sentou-se a uma mesa, pegou um exemplar antigo da Pomba, acendeu um cigarro e passou a ler, com ar de quem não estava com a menor pressa. Uma hora depois continuava lá. Havia lido todos os números velhos da revista, mas não dava sinais de que pretendia ir embora. Paulo lembrou-se da lição adquirida durante os saltos sobre a ponte, na infância: a melhor maneira de diminuir o sofrimento é enfrentar o problema no nascedouro. Decidiu contar logo a verdade para o policial – tinha absoluta certeza de que se tratava de um policial. (…) Tomou coragem e, piscando muito, confessou quem mentira:
– O senhor me desculpe, mas não existe nenhum Augusto Figueiredo aqui. Quem escreveu o artigo fui eu, Paulo Coelho. Qual foi o problema?
O visitante abriu um largo sorriso e dois braços compridos, com se oferecesse um abraço, e falou com forte sotaque baiano:
– Mas então é com você mesmo que eu quero falar, rapaz! Muito prazer, meu nome é Raul Seixas.
* E assim nasceu a parceria mais emblemática da música popular brasileira nos doidos e doídos anos 70…