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Recordações de um repórter – 10

Da série conto o milagre, mas não o nome do santo…

Então, aquele brioso diário regional orgulhava-se de ser um dos mais importantes do país. Orgulhava-se mais da estreita integração que fazia questão de manter junto à comunidade que lhe emprestava o nome.

A bem da verdade, o valente veículo de informação reconhecia-se legítimo porta-voz dos anseios regionais. Mais até: estava ao lado dos seus para o que desse e viesse…

A serviço da região – era o lema.

Para estreitar ainda mais esses laços, o Departamento de Marketing não se cansava em inventar modas. Era campanha em cima de campanha. Sem contar os inúmeros programas de aproximação com instituições e entidades representativas dos diversos segmentos sociais.

Um desses programas – digamos que o mais singelo deles – chamava-se Dia de Visita e consistia em trazer estudantes de todos os níveis escolares para conhecer a pujança do bravo jornal. Semana sim e outra também, lá estavam os garotos espalhando-se feito água de ribeirão pelas diversas repartições da empresa. O passeio ‘quase cívico’ terminava na Redação, onde todos posavam para uma foto que, salvo imprevisto de última hora, saía na edição seguinte, com texto legenda dando o nome de cada ilustre e pequeno visitante.

Óbvio, repórteres e redatores odiavam essas visitinhas.

Estavam ali no lufa-lufa do fechamento – e, era inevitável, um deles precisava parar o que estava fazendo para “fechar” esse texto que era mais ou menos assim:

Estiveram ontem em visita à nossa Redação os estudantes da terceira série da Escola Municipal etc etc etc.

Daí em diante, listava-se os nomes das figuras.

No dia seguinte, era uma festa na região da escola. Todos os pais e familiares queriam ver a foto dos lindinhos nas páginas do jornal. As vendas subiam consideravelmente nas redondezas.

Era uma beleza!

* Amanhã eu continuo…

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