Naquele tempo que no tempo se perdeu, éramos jovens e inconseqüentes, como bem dizia o amigo Nasci, nosso mestre e guru. Por isso, sempre havia uma daquelas histórias que ficaram para sempre em nossas memórias.
Histórias que hoje, quando as lembro em conversa, as pessoas – que não conheceram o Nasci e aqueles tempos – pensam que estou inventando e tudo não passa de uma grande piada.
Vejam a o caso de Nando, um dos nossos.
Ele andava cabrero que só.
Não era para menos.
Divinha, sua musa e deusa, achara de lhe pedir um tempo.
Inexplicável para o malandro-otário.
— Divinha, mas eu te amo, tentou sondar o terreno.
Ela sorriu lisonjeada, mas não lhe deu o troco na mesma moeda.
Ficou na dela.
O que deixou Nando mais puto ainda.
— Tem marmanjo na parada, vociferou em tom de ameaça.
Outro sorriso de Diva e, de quebra, uma resposta evasiva.
— Sem essa agora, Nandinho, por favor.
Sem coragem parta enfrentar o certo sem mentira e a verdade muito verdadeira, o otário-malandro silenciou.
Ficou pior a emenda.
A dúvida lhe atormentava. Saiu pela aí a consultar as amigas de Diva, a mulher dos seus sonhos e da sua vida. Todas, todas, mas todas mesmo confirmaram, entre risos e “deixa pra lá”, que a moça estava só num momento mais, assim, reflexivo da vida. E seria legal que ele lhe desse o tempo que pediu.
Mais tranqüilo, Nando reapareceu naquele boteco que se perdeu no tempo. Ali, na esquina da rua Greenfeld que as obras da estação do metrô e do fura engoliram sem deixar vestígio. Ali, ali, onde o Sacoman torce o rabo e os ônibus Fábrica-Pinheiros estrebuchava na curva.
Todos saudaram a volta do amigo. Com novas rodadas de cerveja e cachaça – uma para rebater a outra. Eu, não – pois, como sabem, só tomo Coca Light.
Mas, enfim, também fiquei feliz. Bem feliz.
A ponto de lhe perguntar sobre o romance com Diva e as suspeitas que ele tinha de arabescos a lhe enfeitarem a testa.
Ingênuo, achei que estivesse tudo bem com ele.
E, até aquele momento, até a minha malsinada pergunta, diria até que estava.
— Beleza, meus caros. Beleza. Perguntei para as amigas da Diva sobre essa onda dela de ficar só e todas, todas, ouviram bem, me disseram que não ninguém na parada. Divinha só está querendo mesmo um tempo para…
Óbvio que o Nasci não deixou sequer o rapaz terminar a fala.
Foi na jugular.
— Nando, vai por mim, ela tem outro.
O sangue lhe subiu às fuças. Ele se indignou. Mas, o Nasci era o Nasci. Por isso, relevou e tentou desfazer o mal entendido.
Em vão.
— Não vi nada, ninguém me contou nada. Mas, desculpe, ela tem outro.
O Nasci, por vezes, era mesmo implacável.
Nando sorriu amarelo e argumentou como pôde.
— Que nada, Nasci. Perguntei, uma a uma, para todas as amigas dela que me garantiram que ela vai voltar. Só precisa de um tempo. È isso…
— Nando, sentenciou o Nasci. – Você quer acreditar? Acredite! Mas, preste atenção, porque não vou falar duas vezes… Preste atenção: as amigas são dela, e não suas.
Pior que o Nasci tinha razão…