• Discurso proferido para os formandos
de jornalismo da Universidade Metodista
de São Paulo – “Turma Zé Hamilton Ribeiro”.
Cá estamos para uma nova formatura…
É um desses raros momentos na vida da gente em que o sonho e a realidade se fundem para se fazer um só.
Nunca sei exatamente o que lhes dizer que já não disse em sala de aula ou pelos corredores do Edifício Delta e da vida.
Inevitável nessas formaturas é lembrar meu filho.
Um dia ele ocupou o lugar onde hoje vocês estão. Hoje, ele está na redação a enfrentar o desafio nosso de cada dia. É uma associação que sempre faço porque me dirijo a vocês com a mesma cumplicidade de ideais e sonhos bons, com a mesma fé no amanhã que vocês e ele hão de construir.
Inevitável também lhes confessar minha renovada emoção. Porque, reparem, há sempre um quê de poesia nesses momentos limites.
Ficou lá atrás, em algum belo lugar do passado, o momento de chegar. Agora, vivem o encantamento de partir em busca de novos portos, novas paisagens, novas conquistas.
Entre os dois lados da mesma viagem, restou uma coleção de fatos, de encontros e desencontros, de vitórias e desafios que marcou indelevelmente a vida de cada um. Para o bem ou para o mal. Porque a vida é assim e ainda bem que assim é. Houve, por certo, instantes de dúvidas, tristezas, vacilos; mas, seguramente, os momentos felizes foram mais intensos e determinantes.
A ponto de hoje estarem aqui a celebrar, mais do que um título de bacharel, um jeito muito especial de encarar a vida.
E, por mais redundante que pareça, um jeito muito especial de viver.
Jornalistas, vocês sabem, é uma profissão de tempo integral.
Faça chuva ou faça sol.
Domingos e feriados. Natal e Ano Bom. Carnaval e Páscoa…
Engraçado que a gente gosta disso.
Reclama, mas adora esse modo de viver.
O jornalismo vive hoje um momento de transição.
Fala-se uma porção de coisas. No fim do jornal impresso. Na convergência das mídias. Na segmentação da informação etc etc etc. Falam tanto…
Para definir esse momento, ouso me fazer, descaradamente, parceiro do poeta Pablo Neruda para lhes falar do compromisso que ora assumem.
Lá nos antigamente, quando a poesia vivia um momento de estranhamento sob a ameaça de ser substituída pela canção popular, Neruda escreveu:
“A poesia perdeu seu vínculo com o distante leitor”.
O jornalismo, idem – eu lhes digo.
É preciso reconquistar o leitor, esse leitor mais terra, mais chão, mais Brasil.
Sobre a poesia, Neruda receitou:
“É preciso caminhar na escuridão e se encontrar com o coração do homem, com os olhos da mulher, com os desconhecidos das ruas, daqueles que precisam de um único verso que seja para voltar a sorrir. Esse encontro com o imprevisto vale pelo tanto que a gente andou, por tudo o que a gente leu e aprendeu. Somente então seremos poeta”, conclui o chileno.
Acreditem:
Somente harmonizados com o ideal e o sonho de um mundo fraterno e justo – poderemos nos entender jornalistas.
Deus abençoe a todos vocês.
E, por favor, não se esqueçam da poesia…