Uma pausa para reflexão nessa segunda-feira ronaldesca e hebeana. Para mudar um pouco o foco das discussões, valho-me de trecho da crônica O Fim do Livro e a Eternidade da Literatura, de Carlos Heitor Cony, publicada em 8 de setembro de 2000 no jornal Folha de S. Paulo e reimpressa no livro O Tudo e o Nada – 101 Crônicas, do próprio Cony, lançado pelo PubliFolha em 2004. Em discussão, a palavra impressa, as novas tecnologias e o eterno “eu te amo”. Leiam!
Discutir a sobrevivência do livro,
como objeto material, é ocioso.
Como produto industrial,
ele estará sujeito às transformações
da técnica e da circunstância.
Agora, o espírito da letra,
a necessidade da letra como
símbolo de expressão,
reflexão e comunicação,
isso nada tem a temer
da linguagem digital.
Pelo contrário: ela
ajudou a velha letra,
que nossos ancestrais
grafavam na pedra
ou na madeira, a vencer
a força e a comodidade
da imagem. Não adianta
colocar Ingrid Bergman
beijando Humphrey Bogart
para transmitir a beleza,
a necessidade que
sentimos toda vez que
amamos. Nada substitui
a simplicidade, a maravilhosa
assombração do “eu te amo”.