O Nasci era mesmo um sedutor.
Não fazia por mal. Era casado, tranquilo e não estava interessado em ninguém. Era apenas o seu jeito de contar histórias e se divertir.
As mulheres, via de regra, adoravam.
Certa vez, um dos nossos reclamou forte.
— O que foi que você conversou com a minha mulher? Há uma semana, ela só sabe dizer: O Nasci falou isso, o Nasci falou aquilo, o Nasci falou… Estou quase dando as contas para ela e mandando para sua a casa.
“Coisinhas, coisinhas”, respondeu cheio de humor.
Na verdade, quinze minutos de conversa numa dessas festas de fim de ano – e pronto. A senhora do nosso amigo encantou-se e achou solução para todos os males da vida na voz pausada do Mestre de todos nós, o Nasci.
Engraçado que a coisa toda era tão natural que, às vezes, provocava incômodas confusões. Uma delas aconteceu em outra festa que o pessoal organizou não lembro bem por qual motivo. Uma jovem da Administração caiu de amores e queria porque queria dar o que hoje chamamos de uma “ficadinha” com ele.
Velho de guerra, hábil estrategista, Nasci se esquivou do jeito que pôde. A moça –que não era lá das mais encantadoras, mas dava para o gasto – insistia e, a cada escapada, ia ficando mais e mais nervosa. Até que em determinado momento, vendo a batalha perdida, apelou feio.
— Você é gay é?
E o Nasci com o ar mais cínico do mundo respondeu:
— Nossa, queridinha, você percebeu? Então é melhor não dar pinta …
Em seguida, empinou o nariz e ameaçou sair do salão pisando macio e de mãos dadas com o Cebola que, mesmo surpreso e lamentando a moça ter lhe escapado, topou a brincadeira.
Não preciso dizer o quanto rendeu a piada noite adentro que, para variar, terminou num boteco qualquer da cidade.
FOTO no blog: Jô Rabelo
[Texto publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]