Terceira e última parte da entrevista com Plínio Marcos, publicada em 4 de março de 1978. Participação do amigo e jornalista Clóvis Naconecy de Souza.
– E como anda o Plínio Marcos jornalista?
PM – Como jornalista, eu fui posto pra fora das “Folhas”, da “Veja”, do “Placar”, da “Última Hora”. Enfim, fui posto para fora de todos os lugares que eu trabalhei, e nunca foi pelo patrão, pelo diretor. Sempre foram pressões externas, o que pra mim é motivo de orgulho. Uma vez que sempre incomodei escrevendo… Essa é a minha finalidade, a finalidade de todos aqueles que trabalham com pensamento, com o intelecto, é ser perigoso. Se o intelectual não for perigoso, não tem nenhum sentido. E eu não posso nada, mas eu sei que incomodo.
– Como conferencista, no entanto, você está se saindo bem, não é? Parece que em média você realiza umas 40 palestras em faculdades. É isso?
PM – Ano passado, fiz 60 palestras em faculdades. E esse ano já vou pra oito, com mais 30 marcadas. Eu falo sobre as necessidades culturais do povo. Abordo o problema do rádio, cinema, música popular, lazer, futebol, todas essas coisas.
– Plínio, é definitivo isto: com a censura não há escapatória, não há possibilidade de sobrevivência de nenhuma forma espontânea de cultura popular?
PM – Nem com a censura, nem com o elitismo das classes dominantes. No Brasil, o que a gente tem que fazer nesse momento é funcionar como incentivador do povo, para que ele participe de sua história. Tudo o que está aí, tudo o que se fala de política, são sempre grupos discutindo pra ver quem vai ser o próximo tutor do povo. A gente não quer isto. A gente quer que o povo participe de sua própria história.
— Plínio, quais as pessoas que você admira e que apesar de todas as pressões conseguiram se manter honestas em seu comportamento?
PM – Ah! Mas isso é evidente. O obscurantismo é muito grande, as pessoas fracas vão se degenerando, vão enveredando pelos caminhos do escapismo, mas em compensação surgem os grandes gigantes. Nós poderíamos citar dom Paulo Evaristo Arns, que é uma figura maravilhosa, um espírito iluminado, tem sido um realmente um bom orientador. Eu poderia citar o frei Beto, que está fazendo um trabalho maravilhoso nas favelas de Vitória. Eu posso citar esse homem de valor extremo que é o Hélio Bicudo. Poderia citar, no meio jornalístico, vários colegas, entre outros o Mino Carta, por exemplo, que tem se portado com extrema dignidade. Ele não é o único, outros também têm. E assim por diante. Nessa época vão surgindo os verdadeiros gigantes que lutam pelo direito humano, que vão dar uma contribuição decisiva para que a humanidade dê um passo a frente.
— Você tem alguma previsão do que vai fazer futuramente? Você está preparando algum livro outra peça…
PM – Sempre estou escrevendo. Agora estou escrevendo um livro. Ainda nem sei como classificá-lo, se romance de denúncia, de testemunho, sei lá o quê. Chama-se “ Na Aldeia do Desconsolo”. Continuo também fazendo conferências aí por todo o interior e mesmo em outros estados.
– Quando da proibição de “Abajur Lilás”, como é que foi exatamente. O que sucedeu? Parece que a peça estava prestes a entrar em cartaz…
PM – É, eles quiseram ver a peça pelo ensaio geral. Então, teve que fazer a produção toda e na hora do ensaio geral eles proibiram. É um direito que eles têm, dessa regra, desde que a gente se submeta a regra do jogo, eles têm esse direito.
— Uma questão também bastante complexa no Brasil: o direito autoral. O que você acha disso?
PM – No que se refere ao direito autoral do autor teatral posso dizer que no Brasil ele é correto em 80%. Agora, o pessoal da música reclama muito, é realmente um escracho. Como autor teatral, não posso me queixar pois tenho recebido.
– Ao que se vê, esse é um problema específico da área da música popular…
PM – O ECAD, né? Todos os compositores estão chiando porque o sistema de recolhimento e a distribuição dessa verba são precários e dão margem a mil tramóias.
— O que você faria se, por exemplo, lhe fosse dado o poder de dirigir o País?
PM – Eu como artista jamais ficaria no poder. Ficaria sempre contra o poder. Sou um crítico da sociedade e jamais ficaria atrelado ao poder.
– De que forma você lutaria contra esse poder?
PM – Da mesma maneira que luto agora, denunciando todos as coisas que a gente vê.
– Essa é a arma mais eficaz?
PM – Não sei se é mais eficaz, mas é minha função. Seria ridículo um escritor oficial