Difícil acreditar que um dia o Congresso Nacional nos foi motivo de orgulho.
Aconteceu, sim.
Foi em 1968 quando os parlamentares corajosamente negaram o direito de os militares processarem o jornalista e deputado federal, pelo Rio de Janeiro, Márcio Moreira Alves, por ofensas às Forças Armadas brasileiras.
Marcito (como era conhecido, nas redações) denunciara a tortura, praticada pelos diretores a quem lhes fizesse oposição, em um discurso feito às vésperas de 7 de setembro – e conclamou a população para que boicotasse as tais festividades cívicas para contestar a ação daqueles que, com suas ações, “vilipendiam a nação”.
O deputado foi cassado e exilado (só voltou com a Anistia, em 79).
Todo esse cenário serviu de pretexto para que a ditadura assumisse sua verdadeira face – e em dezembro de 1968 baixasse o AI-5 que oficializou as arbitrariedades e jogou o País em dias obscuros e pesarosos.
Em 82, Marcito, já com os direitos políticos recuperados, tentou voltar ao Congresso – mas, não conseguiu. Retomou, então, a atividade jornalística como articulista de O Estado de S. Paulo e de O Globo.
V ida que segue…
Ontem, os jornais noticiaram a morte de Marcito, aos 72 anos.
Li contristado os justos elogios que políticos de todos os matizes fizeram à sua notável atuação como homem público. De Gabeira a José Serra, de Fernando Henrique à Lula, entre tantos e muitos.
Lembrei-me no ato de entrevista que fiz como o então deputado Roberto Cardoso Alves, que depois virou ministro de Sarney e consagrou o capcioso slogan “é dando que se recebe”. Ele tinha sido um dos congressistas rebelados de 68 e, como conseqüência, perdeu o mandato, precisou se esconder no interior do País para não ser preso e só voltou a cena política em 76 como vereador em São Paulo.
Robertão lamentou a ausência de Marcito no Congresso. Tinha consciência que estariam em alas distintas e que certamente o jornalista se alinharia contra a linha mais conservadora que o deputado defendia. Mesmo assim, ressaltou numa conversa informal:
— O debate com alguém do porte do Márcio Moreira Alves engrandece todas as partes. É o Brasil quem ganha…
Nesses anos todos, com Marcito apenas nos bastidores da cena política, o Brasil perdeu.
Perdemos todos…
*FOTO NO BLOG: Caio Kenji