Houve um tempo em que os jornais brasileiros viviam à mercê de um mistério:
Onde enterraram os ossos de Dana de Teffé?
Foi na virada da década de 50 para 60. O suposto assassinato da milionária tcheca pelo suposto amante, o advogado Leopoldo Heitor, abalou o Rio de Janeiro e, por extensão, todo o Brasil; pois o que acontecia na Cidade Maravilhosa, então Capital da República, repercutia em todo País.
A mulher desapareceu, sem deixar vestígios.
O amante foi acusado pelo crime que não se comprovou por falta de provas.
Ainda hoje o jornalista Carlos Heitor Cony é recorrente na pergunta. No prestigiado espaço que ocupa no jornal Folha de S. Paulo, o cronista vez ou outra levanta a questão em tom de ironia e desalento com o insondável do Brasil dos dias atuais.
Já li em seus textos conclusões do tipo:
“Só vamos nos livrar dos males que afligem o País quando descobrirem a ossada de Dana de Teffé.”
Após o Fantástico de domingo, temi que a Imprensa nativa tivesse um novo e insolúvel mistério pela frente:
— Onde andará Belchior?
O cantor/compositor cearense, Antônio Carlos Gomes Belchior Fonenelle Fernandes, desapareceu sem deixar vestígios. O Fantástico mostrou os carros abandonados em estacionamentos públicos, o ateliê do artista fechado, o apartamento também. Parentes e amigos, sem notícias há dois anos. E o clima de mistério e alguma preocupação.
Ontem, nos diversos portais, porém, surgiram mil e uma notícias sobre o paradeiro do guapo, autor de “A Palo Seco”, “Como Nossos Pais”, “Alucinação”, entre outras canções de inequívoco sucesso. Pelas informações divulgadas – a maioria de turistas em visita a cidades famosas –, desfez-se o mistério. Aos 62 anos, carreira mais do que consolidada, Belchior parece estar se divertindo por esse Brasilzão de meu Deus. No alforje de viagem, coube também alguns passeios por Uruguai e Chile.
Afinal, é dele um dos versos mais bonitos e verdadeiros do nosso cancioneiro popular:
“Viver é melhor que sonhar”.