Eu a vejo, de relance.
Caminha pela praça da pequena cidade onde costumo me refugiar há anos; longe da lida, perto das montanhas, cujos contornos dão vida e esplendor à região.
Há uma menina ao seu lado. É provável que tenha a idade que ela tinha quando a vi pela primeira vez, criança ainda, filha de um casal de conhecidos.
Devia ter quatro ou cinco anos, como a garotinha tem agora.
Estou a uma distância considerável – 30, 40 metros –, mas sou capaz de lhes garantir que uma hoje é o que a outra fora em tempos idos e vividos, ainda que mal percebidos no seu caminhar: uma princesinha de mil e um encantos.
Gosto de lembrá-las como parte deste cenário bucólico.
Trazem-me um tanto de paz. Não, a paz dos cemitérios. Mas, a dos que viveram (vivem) e deixaram (deixam) viver.
Nós, os que embicamos para a curva dos 60 – aqueles que a Globo vai chamar em seriado de Cinquentinhas – temos raras opções. Ou nos agarramos ao fio desencapado do que resta da juventude (e há os que exageram no figurino, ao usar bonés com a pala para trás e bermudas de surfistas) ou enfrentamos corajosamente o desafiar de um tal senhor chamado Tempo com a leve certeza de que, na medida do possível, saberemos dar um arremate legal ao que resta da história.
Deve haver uma terceira via – não apostaria todas minhas fichas nele.
A vida se dá em ciclos, saibamos ou não identificá-los.
Eles, sim, são implacáveis. Não se esquecem de cada um de nós. Deixam marcas. De perdas e conquistas. Alegres ou tristes; inexoráveis, porém.