Toda vez que vejo noticiada uma tragédia em Heliópolis lamento pelo Brasil.
Porque a história daquele lugar revela a incúria, o descaso e a irresponsabilidade dos diversos setores envolvidos com as políticas públicas que regem a vida do brasileiro.
E que (vamos lá, por que não assumirmos?) conta com certa leniência da nossa parte que fingimos não ver o que estamos vendo.
A região de Heliópolis era para ser a área nobre do então promissor bairro do Ipiranga. Daí, o significado de seu nome: cidade do sol.
Acontece que aquela vasta área de terra, entre São Paulo e São Caetano, era disputada na Justiça por diversos supostos proprietários – famílias inteiras de digladiaram nos tribunais, inclusive alguns órgãos públicos como o INSS e a Sabesp.
Esses processos se arrastaram por anos, décadas…
Toda aquela imensa região ficará ao Deus dará.
Foi tomada por campos de futebol que, em última análise, ofereciam lazer aos garotos e marmanjos.
Em 1972, a Cidade se preparou para o sesquicentenário da Independência – e uma das grandes obras projetadas para mostrar a pujança de São Paulo era um viaduto que passaria bem no meio da Favela da Vila Prudente.
O que fez a Prefeitura?
Construiu num dos terrenos de Heliópolis, próximo à Avenida Almirante Delamare, o Núcleo Temporário Habitacional. Transferiu 100 famílias de moradores da Vila Prudente para lá.
Foi o início de tudo.
A cada prefeito que se sucedia na Municipalidade eram propostos e discutidos planos mirabolantes para a favela que crescia a olhos vistos.
Falou-se em grande área verde, em conjunto poliesportivo, em sede da Associação Cristã de Moços , entre outras pirotecnias eleitorais que foram abandonadas por volta de 1978, pois já eram mais de 15 mil moradores no local.
A partir de então, projetos de núcleos habitacionais se sucederam: o do vereador Almir Guimarães, o do então secretário Arnaldo Madeira, o do prefeito Jânio Quadros, o mutirão de Luiza Erundina, o Cingapura de Maluf…
Nenhum foi concluído por questões políticas e eleitorais.
Quem assumia a Prefeitura, fosse qual fosse a matiz política, descartava plantas e croquis da gestão anterior e prometia tudo novo – e mais adequado, mais completo, mais mais.
Saliente-se também o papel daqueles que estavam na Oposição. Tentavam de todas as formas inviabilizar a realização do projeto em vigor. Não era o bem da comum que estava em jogo e, sim, os dividendos políticos eleitorais de tal ação.
Tudo diante dos nossos olhos, da nossa indiferença. Da nossa cumplicidade.
* FOTO no Blog: Jô Rabelo