Morreu hoje Mercedes Sosa. Aos 74 anos, em Buenos Aires.
Me é difícil explicar para a garotada de hoje o que representou Mercedes para nós, jovens dos anos 70, em um momento em que a Sul América estava sob o tacão do autoritarismo e da censura.
Felizmente, esses meninos hoje não sabem o que é isso.
Essa condição – melhor seria dizer, conquista –, aliás, muito se deve a artistas como essa cantora argentina, nascida em Tucumán, em 9 de julho de 1935.
Sem exagero, eu diria que ela foi o principal elo entre a cultura brasileira e a dos demais países vizinhos, de língua espanhola.
A música foi a ponte.
Por aqui, até surgiram grupos de música latinoamericana de algum sucesso, como Raízes de América e Tarancon, e cantoras com a mesma pegada e indignação como a baiana Diana Pequeno – aliás por onde anda Diana Pequeno?
No entanto, foi pela corajosa voz de Mercedes que tomamos conhecimentos de autores como Violeta Parra e Victor Jará. “Gracias a La Vida”, a canção símbolo da época, ganhou uma versão ainda mais pungente no canto de Elis Regina
Na corajosa voz de Mercedes, tomamos consciência que dividíamos a mesma dor.
Que a luta era de todos nós, que vivíamos neste continente.
Que éramos um só povo, uma só voz em um único canto:
“Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto”
Tomara que as novas gerações saibam defender e preservar esse legado…