Fiquei tocado pela notícia da morte de Mercedes Sosa.
La Negra, como ontem aqui escrevi, influenciou toda uma geração, ali pelos anos 70.
Vivi essa época.
Tempo de resistência, da música engajada – e de algumas lembranças que hoje me parecem até divertidas.
Por exemplo.
Surgiu, à época, uma tribo que se convencionou chamar de “poncho e conga” porque a rapaziada adotou um visual pouco comum, inspirado na moda dos países hermanos. Bem, nem sei se era exatamente uma moda. Mas, ganhava-se um toque de contracultura quando se exibia aquelas malhas pesadas, feitas com lã de leñas ou os gorros típicos do pessoal da Bolívia e do Peru.
Óbvio que Matchu Pitchu virou o point dos descolados.
Se o cara topasse enfrentar o trem que unia (une ainda?) o Brasil a Santa Cruz de La Sierra, aí ele virava o deus dos mochileiros. Quase um Che Guevara…
Também viraram moda naqueles idos tempos grupos de música com instrumentos, diria, exóticos como charango, quena, zampoña e aquela coleção de instrumentos de sopro, feitos de bambu ou algo no gênero. Ainda hoje, vez ou outra, a gente vê pelas ruas centrais de São Paulo.
No afã de ser apenas um rapaz latino-americano, havia quem se gabasse de tirar som de “unha de cabra”.
Como assim?
Verdade.
Ouvi isso do pessoal do Tarancón, grupo de música que teve um relativo sucesso entre o pessoal do “poncho e conga”, quando entrevistei seus componentes lá pelo fim dos anos 70. Emílio, Jica, Juan, Halter Maia e Miriam Pedroso apresentavam-se em universidades e teatros. Seus shows – lembro do nome de um deles: Lo Único Que Tengo – eram concorridos e havia até uma performance de uma artista plástico que “cometia” uma tela em meio às canções e à frente de todos.
Os jovens acreditavam que eles eram chilenos, argentinos, bolivianos. Mas, eles eram todos brasileiros e moravam num casarão ali na Oliveira Alves, no velho e bom bairro do Ipiranga.
FOTO NO BLOG: Buenos Aires/arquivo pessoal