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As redações de então

Estranho sempre o silêncio e assepsia das redações de hoje.

Deve haver exceções.

Mas, não as conheço.

Sempre que vou a uma delas, fico surpreso com o tom civilizado das conversas entre jornalistas. Mas, o que me entristece é que não mais ouço ali o toc-toc-toc intermitente, a rapsódia das máquinas de escrever, quase encoberto pelo vozerio da rapaziada no delírio do "fehamento".

O deslizar dos dedos nos teclados dos computadores, embora ritmados e ultraeficientes, não tem o mesmo charme, não empresta o mesmo charme ao lugar.

Me disseram agora agora que no on-line se "fecha" minuto a minuto.

Deve ter aí seus encantos. Eu que hoje estou um tanto saudosista.

Tenho lá meus motivos, permitam-me não externá-los.

II.

Lembro que nas redações antigas não se tirava férias.

Não era medo de perder o emprego.

Até porque emprego em jornalismo nunca foi vitalício.

O Velho Nasci, mestre e amigo, sempre dizia:

— Tem alguma coisa de errado com o jornalista que ficar cinco anos no mesmo jornal.

E concluía depois de uma baforada no cachimbo holandês que não sei quem deu a ele:

— Com o jornalista ou com o jornal. Provavelmente com os dois…

Ficamos anos, décadas na Velha Redação de piso assoalhado; eu e os meus chegados, mas sempre concordamos com a frase.

O Nasci era um dos nossos.

III.

Retomando a conversa, explico.

Não tirávamos férias porque trabalhávamos e nos divertíamos com o que fazíamos. Ninguém queria ficar de fora de algum grande acontecimento. Como o Brasil e os brasileiros são pródigos em fazer e acontecer, tínhamos serviço o ano todo e todo o ano. Da cobertura da Corrida de São Silvestre em 31 de dezembro às eleições que eram em novembro, valia tudo e topávamos tudo – Carnaval, Copa do Mundo, manifestações populares, visitas ilustres, ocorrências policiais, coberturas internacionais, entre outras demandas.

Valia tudo para dar a manchete do jornal.

IV.

À noite, em algum Sujinho da vida, contávamos nossas prosas.

E reclamávamos – ah, como reclamávamos! – de tudo e de todos.

No dia seguinte, de cara lavada e alma aventureira, lá estávamos para começar tudo de novo.

Com a mesma saudável insanidade, marca registrada dos jornalistas de então.

FOTO NO BLOG: Jô Rabelo

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