O pai e a filha almoçavam em uma praça de alimentação.
Ela arrastava o sotaque interiorano – e lhe explicava as vicissitudes do fim de semestre que se arrasta sem fim nas aulas da faculdade.
— É fogo na bomba, viu, pai.
O pai apenas sorriu, achando graça.
Não sei se entendeu exatamente o significado da expressão.
Para lhes ser franco, eu também não. Até porque ela poderia definir melhor de que tipo de que espécie de bomba estava falando. Bomba de gasolina? De chocolate? De bomba, bomba, mesmo?
Em todo caso, desconfio que o sentido deve ser o mesmo de:
“É fogo no boné do guarda.”
Ouço a frase desde criança, nunca soube exatamente o que quer dizer.
Mas, sempre fico com a impressão de que é o fim da linha.
Aliás, neste exato momento tenho a sensação de que nunca vi um boné de guarda incendiando-se.
Digo mais.
Nunca sequer cheguei a ver um guarda de boné.
Nem nas horas vagas.
O que, a bem da verdade, não lastimo…
II.
Barbeiro, aquele dos velhos tempos, é sempre falador.
No ritmo do tic-tic-tic da tesoura, vai contando suas prosas.
Preferencialmente, passa a limpo a vida dele e a dos outros.
O que cortou o meu cabelo ontem não é diferente.
Por que seria?
Passou em revista as manchetes do dia. Comentou o futebol. Ameaçou tucanar para, em seguida, elogiar o governo Lula.
Foi indo, indo, indo…
Até chegar ao assunto que eu mais temia: o caso da tal Geisy.
Como percebeu que em nada me interessava o tema, preferiu falar dele próprio e do infortúnio que está vivendo às barras dos tribunais. Uma ex-funcionária do salão resolveu cobrar 16 mil reais de indenização e a Justiça Trabalhista está em vias de acolher a denúncia.
Ele está arrasado e, com uma só frase, enfeixou as duas histórias.
— Essa é outra, que não tinha um gato escaldado para puxar pelo rabo, agora está aí: toda prosa, cheia de querer.
III.
Dia de sol.
Feriadão.
Fui caminhar no parque perto do apartamento onde moro.
Cheio de modernidade. Fontes e jardins bem cuidados, é um oásis em meio ao pesado cinza da cidade. Tem até música ambiente. Uma beleza!
Ou quase…
Desconfio que ontem o responsável do som esqueceu-se de trocar o CD – e, na hora e tanto que zanzei por ali, só deu Fábio Júnior.
O que levou a funcionária que recolhia as folhas do chão a fazer o seguinte comentário:
— Ainda bem que não estou na fossa.
Um dos caminhantes ouviu o desabafo e lhe preparou para o pior:
— Logo, logo toca “Pai Herói”.
Todos que estavam naquele trecho do vaivém riram solidários.
Inclusive eu.
Que, para ser sincero, estava até gostando daquela trilha sonora.
À tarde, no shopping, confesso, andei de olho grande para ver se achava o CD com as mais mais de Fábio Júnior.
Mas, fiquei atento.
Vai que a moça e o caminhante estivessem por perto…
FOTO NO BLOG: Jô Rabelo
* Volto na segunda…